Editorial

Mineração na Serra do Curral é um alerta do passado, para o presente e o futuro

É preciso atenção às contrapartidas que essa atividade minerária irá trazer, de fato, para o Estado e população
Mineração na Serra do Curral é um alerta do passado, para o presente e o futuro
Foto: Clarissa Barçante/ ALMG

A Serra do Curral, marco geográfico e paisagístico referencial de Belo Horizonte, foi ao longo do tempo degradada por atividades minerárias cuja continuidade é o mais completo despropósito. Um processo que vem de longo e já bastou para alterar todo o perfil do maciço, comprometendo muito mais que a paisagem, sendo suficiente lembrar que teve impactos comprovados no regime de ventos e, consequentemente, no clima da capital dos mineiros. Notem bem os leitores, não estamos tratando de um assunto pretérito, de erros cometidos no passado e pelos quais todos continuamos pagando preço elevado.

Bem ao contrário, o que nos move nesse comentário é assunto bem atual, objeto de recente decisão judicial que só merece ser definida como absolutamente estarrecedora. As atividades de mineração na Serra do Curral, agora em terras bem próximas da área urbana, prosseguirão e sob patrocínio da Justiça Federal, especificamente da 11ª Vara Civil da Capital, que suspendeu a interdição, atendendo pedido da mineradora Empabra. Como é sabido, as atividades no local estavam interditadas, entre outras razões, por falta de competentes licenças ambientais, conforme ação movida pela Prefeitura de Belo Horizonte, que já antecipa que irá recorrer tão logo seja formalmente notificada.

O assunto escancara, à vista da população de Belo Horizonte, as mazelas da atividade minerária, que, cabe lembrar, foi objeto da ocupação do território de Minas Gerais e prossegue sendo a principal atividade econômica na região. Na sua fase áurea, no século XVII e durante o Ciclo do Ouro, fez a riqueza de Portugal e, mais, ajudou diretamente a mudar a economia ocidental ao financiar em parte a própria Revolução Industrial. De tudo isso, para Minas Gerais e para o Brasil restaram cavas abandonadas. Caberia indagar, diante dos sinais de que novos investimentos irão alavancar o setor, qual exatamente a contrapartida que o Estado espera, como os mineiros imaginam o seu futuro.

Espera-se que não seja a mera repetição do passado e que, finalmente, a exploração das riquezas minerais que nosso subsolo esconde venha acompanhada de transformações que traduzam a recompensa há tanto aguardada. Eis porque o que se passa agora na Serra do Curral, uma espécie de palco para a cidade, seja na realidade um alerta capaz de finalmente mudar o rumo dos acontecimentos. A mineração é bem-vinda, porém não nos termos que se apresenta, gerando ganhos que não são compartilhados, produzindo riquezas que vão para bem longe, sem que germine no seu espaço frutos que sejam verdadeiramente compartilhados. Chega!

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