Editorial

Covid, dengue e, agora, HIV: o que não falta é descaso com a saúde pública

Situação de descaso com a saúde pública ganhou um novo capítulo nas últimas semanas, no Rio de Janeiro
Covid, dengue e, agora, HIV: o que não falta é descaso com a saúde pública
Crédito: Fernando Frazão/Agência Brasil

Escândalos na saúde já viraram rotina no Brasil há muitos anos, sejam por fraudes ou incompetência pura. A Covid-19 já matou mais de 700 mil pessoas no Brasil desde 2020. Grande parte dos óbitos poderia ser evitada se o ex-presidente Jair Bolsonaro tivesse encarado com a seriedade necessária a pior pandemia vivida no mundo nos últimos séculos. Em 2024, o número de mortes causadas por dengue superou o registro de falecimentos provocados pelo novo coronavírus. Foram computadas 5,6 mil vítimas fatais da doença transmitida pelo aedes aegypti, contra 5,1 mil mortes associadas à Covid-19, de acordo com o Ministério da Saúde.

Doenças antes controladas, como sarampo e poliomielite, voltaram a gerar preocupação devido principalmente ao movimento antivacina, que ganhou força com o negativismo ideológico liderado por Bolsonaro e sua trupe em plena pandemia, a despeito do caos nos hospitais, incapazes de atender com dignidade a um contingente impensável de enfermos.

A situação de descaso com a saúde pública ganhou um novo capítulo nas últimas semanas com o caso de pacientes infectados pelo vírus do HIV durante transplantes de órgãos. O escândalo provocou a demissão em massa da diretoria da Fundação Saúde, empresa pública do governo do Rio de Janeiro, responsável pelo contrato com o PCS Lab Saleme, cerca de dez dias depois de a barbaridade vir à tona. De acordo com governo estadual, o PCS Lab Saleme foi contratado em dezembro do ano passado por R$ 11 milhões para fazer a sorologia de órgãos doados. Além do absurdo erro médico, ao que tudo indica, houve corrupção na história.

Na semana passada, a Polícia Civil decidiu desmembrar o procedimento que apura os falsos laudos e instaurou inquérito para investigar a contratação da empresa. O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) também apura o processo.

Doutor Saleme, da PCS Lab Saleme, é sócio de Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, primo do ex-secretário de Saúde Doutor Luizinho, deputado federal e líder do Progressistas na Câmara dos Deputados. Outro sócio do laboratório é Walter Vieira, casado com a tia de Luizinho. O laboratório foi contratado três meses depois da saída de Doutor Luizinho da secretaria. A irmã dele, Débora Lúcia Teixeira, trabalha na Fundação Saúde. São as famosas relações perigosas entre o Poder Executivo e o setor privado que sempre causam perdas irreparáveis para a saúde pública, uma marca deplorável do Brasil. “Que País é Este?”, indagava o saudoso compositor e cantor Renato Russo nos anos 80 no refrão de sua famosa música. Infelizmente, a pergunta continua atual.

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