Negociação e entendimento

Um imbróglio, daqueles que se arrasta no tempo sem solução, até porque parece não ter solução, saiu da modorra e do esquecimento em que se encontrava. Estamos falando da dívida de Minas Gerais com a União, que, formalmente pelo menos, tomou a forma do dito Regime de Recuperação Fiscal que só às vésperas do prazo final para adesão volta à mesa de negociações, com as partes exibindo menor dose de intransigência, se não um pouco mais de realismo. O que de todo não faria sentido seria continuar insistindo na fórmula que já foi aplicada, por exemplo, no Rio de Janeiro, mostrando-se tão irrealista quanto inviável, não resistindo a analise técnica severa e independente, menos ainda ao exame político.
Se reconhecer o elementar representa avanço, tanto melhor se essa postura vier acompanhada da busca do possível, com a necessária dose de realismo. Ou, antes, que possam ser irremediavelmente conspurcados os já tão ameaçados princípios do federalismo.
E tudo isso sem qualquer brecha para a política rasteira, em que o antagonismo assumido entre o governador do Estado e o presidente da República entre como ingrediente no cardápio que começa a ser preparado, ameaçando decisões que obrigatoriamente deveriam estar em outro plano. Também é de se esperar que as conversas, encorpadas depois da interferência do senador Rodrigo Pacheco, mineiro e presidente do Senado, sejam igualmente realistas, mirando sempre o possível, distante dos velhos expedientes de todos fingirem que acreditam, que aceitam, mas todos sabendo muitíssimo bem que o problema apenas estará sendo empurrado para a frente, jogado em outros colos.
Também continua não fazendo o menor sentido que uma única conta seja apresentada, num gesto que tem muito de abusivo, enquanto o próprio Estado renuncia a direitos que são, ou deveriam ser, líquidos e certos, como a exata e integral contrapartida por tudo aquilo que lhe foi tomado através da hoje esquecida Lei Kandir. Passar o pano, deixar o dito pelo não dito, pode ser muito conveniente para a administração federal, mas continua sendo também um sapo que Minas Gerais não tem porque engolir.
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Conversar a sério, conversar para decidir melhor como as duas partes aparentemente se propõe, só será possível se tudo puder ser levado à mesa de negociações, diferentemente do que foi feito ate agora.
E se não basta o elementar entendimento de que o Regime de Recuperação Fiscal, tal como proposto, não funcionou e não tem como funcionar então, que seja verdadeiramente abertas as portas da negociação e do entendimento.
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