O futuro mais perto

Depois de ter sofrido bastante nos dois anos de pandemia, a indústria e o comércio de joias em Minas Gerais dão sinais de recuperação, esperando que seus negócios cresçam até 40% no ano, depois de um primeiro semestre em que a alta chegou aos 20%. Em termos práticos, estes indicadores podem significar que o setor está retomando o patamar anterior à crise sanitária. Conforme explica o presidente do Sindijoias, Raymundo Vianna, para chegar a estes resultados o setor precisou se reinventar, apostando no design diferenciado e no uso mais intenso de pedras coradas, o que além de inovação significou também adequação ao poder aquisitivo do mercado.
Para o bem e para o mal, foram metais e pedras preciosas que condicionaram a ocupação do território ainda hoje conhecido como Minas Gerais. Riqueza enorme que, mesmo precariamente extraída, bastou para mudar a face da Europa, com implicações que foram muito além. Não para o Brasil, evidentemente, que em termos bem objetivos sofreu um processo de espoliação que não deixou nenhum legado. Resta o consolo de que a extração no passado colonial se deu de maneira bastante precária, limitada à superfície, o que bem pode significar que a maior parte dessa riqueza ainda pode estar intocada.
Esta possibilidade, que continua por ser mais bem considerada, nos chama atenção quando, como agora, empresários do setor de joias falam de seus negócios e de perspectivas para o futuro. Com toda certeza cabe pensar grande e a ousadia tende a render bons frutos e numa escala que vai muito além do que se imagina na atualidade. É preciso acreditar e é perfeitamente possível chegar ao futuro imaginado. Um esforço que, no caso brasileiro, deveria começar pelo controle das atividades extrativas e as primeiras etapas de comércio em que a clandestinidade e o descaminho são as marcas mais fortes. Vale para pedras preciosas e semipreciosas, comercializadas quase que totalmente à margem de controles, vale para metais como o ouro, em que a produção legalizada tem ínfima participação na formação do Produto Interno Bruto.
É absolutamente estranho que tudo se passe à luz do dia e tão pouco, quase nada, seja feito para conter as práticas ilegais. Onde foram parar, afinal, os planos para a criação, próximo a Belo Horizonte, de um grande polo de lapidação, junto com escolas de design especializado e ourivesaria? Estamos falando, ainda que com um atraso que já chega perto dos 300 anos, da possibilidade de fazer diferente, de apagar os erros do passado para construir um futuro que, sim, está ao nosso alcance.
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