O gargalo definitivo
Com base nos dados recolhidos pelo Censo de 2022, é possível perceber como a falta de investimentos na escala necessária compromete a mobilidade no País, situação particularmente grave nos grandes centros urbanos e, essencialmente, por conta da precariedade do transporte público. Conforme apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 32,3% dos brasileiros declararam utilizar automóveis para deslocamentos casa-trabalho, enquanto outros 16% utilizam motocicletas e 21,4% ônibus. Trens e metrôs respondem por modestos 1,6% do total de passageiros.
Considerado o aumento da frota de veículos leves em desproporção com a oferta de espaço de circulação, as condições de circulação se encontram em contínuo processo de degradação. Exatamente o contrário do que se esperava nas alturas de 2010, quando o tema “mobilidade” estava em grande evidência, em parte por conta dos preparativos para a realização no País da Copa do Mundo de Futebol.
Questionava-se a conveniência ou não dos investimentos reclamados pelo evento e, precisamente, as condições de hospedagem dos visitantes que estariam no País, assim como a oferta de transporte de massa na escala reclamada. As mudanças prometidas eram então apresentadas como o grande “legado” da Copa do Mundo, com promessas de que linhas do metrô chegariam, por exemplo, às portas do Mineirão, na Pampulha.
Os avanços ficaram na conta das promessas esquecidas e no campo da realidade a situação que já era difícil piorou ainda mais na década seguinte. E a tal ponto que, segundo estimativas, a simples e elementar disponibilização de novos espaços para veículos que entram em circulação corresponde a menos de 20% da demanda real. Os congestionamentos por saturação, que impõem desconforto e sacrifícios inclusive de ordem econômica, como perda de horas trabalhadas dentre outros fatores, acabam sendo agravados porque, simplesmente, não existe a alternativa do transporte público de massa.
Quando o Censo do IBGE aponta que trens e metrôs atendem presentemente a apenas 1,6% dos brasileiros que vivem nos grandes centros urbanos, está explicitado o fracasso das políticas públicas no que toca à mobilidade urbana, que, por outro lado, só pode se agravar diante do fato de que 32,3% da população utiliza automóveis como meio de transporte, sabidamente o mais caro e menos eficiente.
É preciso enxergar, pelo menos perceber a realidade tal como ela se apresenta. Para assim entender que estamos todos caminhando para um grande e definitivo congestionamento em que necessariamente todas as atividades próprias da existência humana poderão estar comprometidas.
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