Editorial

O lítio e seus desafios

O lítio e seus desafios
Foto: Washington Alves/Reuters

Se por um lado Minas Gerais tenta diminuir a dependência pelo minério de ferro, que, há décadas, dita o ritmo econômico do Estado, por outro, devido às suas próprias características geográficas e históricas, encontra na própria mineração alternativas para um futuro rentável e socioambientalmente responsável.

O lítio está entre as grandes apostas dos chamados minerais industriais por suas funcionalidades e potenciais relacionadas às energias renováveis. Trata-se de um insumo estratégico à cadeia de energia limpa, o que poderá multiplicar sua demanda mundial em 40 vezes até 2040, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE).

Presente nas baterias de veículos elétricos e de produtos eletroeletrônicos, o metal tem sido alvo de investimentos bilionários. Na América Latina, onde está a maior parte das reservas mundiais de lítio, Bolívia, Argentina, Chile, e, claro, o Brasil, vêm se movimentando para deslanchar a exploração e produção do mineral.

Em terras tupiniquins, o maior volume do chamado “ouro branco” está em Minas Gerais. Mais especificamente no Vale do Jequitinhonha, região historicamente conhecida pelo baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e pouca relevância econômica. Situação que promete ser mudada nos próximos anos, justamente, pelos aportes que estão transformando a região em “Vale do Lítio”.

A estimativa do governo mineiro é atrair cerca de R$ 30 bilhões até 2030 em investimentos para a exploração e beneficiamento do mineral. Quatro projetos já estão confirmados sob inversões de R$ 5 bilhões.

Mas, mesmo diante tamanha aposta em torno do mineral, alguns desafios já começam a surgir. A começar pela queda abrupta dos preços do lítio, devido às preocupações com a desaceleração da demanda na China, o maior mercado de veículos elétricos do mundo. O preço do carbonato de lítio despencou nos últimos meses, caindo quase pela metade em menos de um ano.

E, não bastasse a perda na cotação, uma das principais apostas do setor no Brasil e em Minas, a Sigma Lithium enfrenta uma crise interna, que inclui batalhas judiciais entre executivos, deixando o mercado temeroso quanto às próximas fases e investimentos da mineradora na região.

Dado o volume de reservas minerais conhecidas para produção de lítio no País, Minas Gerais tem grandes chances de protagonizar as contribuições brasileiras para a transição energética global, por meio da produção de insumos e componentes para baterias. O que o Estado não pode fazer é repetir o erro de quase um século e novamente se concentrar apenas na exploração, deixando a manufatura e o valor agregado de lado. Se assim o fizer, estará fadada a buscar, no futuro, um novo substituto para sua economia, como faz agora em relação ao minério de ferro.

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