Editorial

Um olhar mais atento

Com déficit milionário, estatal volta ao centro das atenções no Brasil
Um olhar mais atento
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Carregando um déficit de pelo menos R$ 20 bilhões para fechar suas contas, os Correios estão novamente no centro das atenções, não faltando quem, como de costume, associe seus males à condição de empresa pública, de controle estatal. Na medida em que for possível estabelecer alguma relação de causa e efeito entre tal condição e os maus resultados que vêm sendo repetidos e ampliados ao longo dos últimos quatro anos, caberia indagar onde precisamente estão os problemas a enfrentar. E sem que necessariamente tal avaliação passe pelo modelo de controle da empresa, assim alimentando a ladainha da privatização, menos apropriada evidentemente que um simples e elementar convite à construção de bons resultados como pressuposto de gestão comprometida com deveres e responsabilidades – e resultados – que necessariamente não existem exclusivamente no espaço das organizações privadas.

Antes, entendemos, seria mais prudente compreender a precisa natureza de serviços oferecidos, sua sensibilidade e, sobretudo, dimensão social ou até mesmo estratégica. Para recordar, por exemplo, que mesmo nos Estados Unidos, por suposto a terra da liberdade de empreender, serviços como geração e distribuição de energia elétrica respondem diretamente às forças armadas e não nos parece que seja necessário indagar o porquê. Na Europa os controles são ainda mais rígidos, erguidos no entendimento de que serviços de agudo e próximo interesse social, como fornecimento de água potável e recolhimento de esgotos, além de outras áreas sensíveis, não devem ser contaminadas pela ânsia do lucro, do retorno direto, aumentado, do investimento realizado.

Serviços postais, em parte e sobretudo na sua forma clássica, estão nesta condição e a medida do lucro é muito mais a disponibilidade, o serviço prestado, que propriamente o retorno, acrescido, do capital. Ainda que no país presentemente a questão da privatização dos serviços postais não esteja em primeiro plano, cabe um olhar mais atento. Para perceber, e como fato um tanto comum, que não faltarão empresas privadas, negócios bem estruturados, para, simbolicamente, ocupar o rico mercado do centro-sul, especialmente para entrega de encomendas.

Cabe sim, tratar de apurar se haverá interessados em cobrir os confins do Norte e Nordeste do País, áreas pobres e de população muitíssimo menos densa e assim ainda mais carentes desses serviços. Os Correios, só os Correios, vão até lá, perdendo dinheiro, distante da lógica do mercado, mas certamente produzindo resultados que deveriam caber numa contabilidade menos ortodoxa e mais social. Bom pensar antes que estejamos diante do vazio consumado.

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