Orfandade indesejada

A modernidade, por obra e graça da eletrônica combinada com a informática, colocou bancos e todos os seus serviços ao alcance das mãos. Um progresso incrível, desmensurado, e que há poucas décadas o melhor dos escritores de ficção científica não seria capaz de imaginar. Progresso, conforto, velocidade e segurança, porém não ainda em escala universal, garantindo o acesso de todos às maravilhas que um simples telefone celular pode oferecer.
Os grandes bancos, assim entendidos pelo tamanho de suas sedes e agências onde eram oferecidos serviços e ao mesmo tempo, pela imponência, tentavam passar adiante imagem de solidez e confiança, praticamente desapareceram. Não existem mais, ou melhor, não estão mais à vista e com suas dezenas, às vezes até mais, de caixas à disposição e por conta dos correntistas. Também os cheques, até há pouco eram descontados na “boca do caixa” estão em processo de rápida extinção, substituído pela moeda virtual. Façanhas em que o Brasil está na dianteira, com um processo de automação bancária que está entre os mais completos e confiáveis do planeta, e responsável também pelo Pix, invenção bem brasileira, própria e única, assim comparada à jaboticaba que também só existe entre nós.
Em síntese, novidades que assombram, mas que têm um outro lado menos brilhante, menos reluzente. Os próprios bancos brasileiros informam que, por conta delas, 7,2 mil agências bancárias foram fechadas no País nos últimos anos e este número tende ao crescimento, já que atualmente 82% da movimentação bancária é feita por meios eletrônicos, telefones celulares especialmente. Modernidade, progresso, mas também algo como orfandade para pelo menos 18% dos usuários do sistema. Muita gente, quase todos representantes de um contingente de idosos, aposentados, gente que não tem nenhum apetite para conviver com as modernidades tecnológicas.
Cabe enxergar e compreender o que se passa, cabe encontrar meios de contornar os efeitos dessa orfandade indesejada e agravada precisamente pelo fechamento de agências bancárias. No interior, cidades inteiras estão sem uma única agência bancária e já foram anotados casos em que para o simples ato de receber aposentadoria idosos têm que viajar, e repetitivamente, até 50 quilômetros. As taxas de lucratividade dos bancos que operam no Brasil são precisamente as mais altas no planeta, o que significa dizer que existe gordura para ser queimada sem qualquer sacrifício, bastando alguma redução no, digamos, apetite.
Como é um tanto improvável que ocorram movimentos voluntários nesta direção, caberia aos governos, às autoridades públicas, perceber que o interesse social deve prevalecer. E os órfãos do sistema bancário atendidos como é de seu direito.
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