Orquestra desafinada

Gestão pública no Brasil continua sendo arte de difícil entendimento, quando não uma orquestra claramente desafinada. Eis o somatório de questões antigas, de certa forma mais velhas que a própria República, tudo num processo constante de involução no qual valores que deveriam ser imutáveis sucumbem à conveniência do momento. Acontecimentos recentes iluminam – ou seria justo o contrário? – a afirmação que abre o comentário de hoje. O atual presidente da República chegou de volta à cadeira que ocupa depois de duríssimo embate e de votação apertada, num dos momentos mais sombrios que nosso País já conheceu. Chegou prometendo unir e reconciliar, ponto de partida para esforços no rumo da recuperação econômica, superação da condição de miséria a que estão relegados milhões de brasileiros.
Tarefa tão difícil quanto ambiciosa, exigindo enorme habilidade política, começando pela construção da governabilidade. Tão tarimbado quanto pragmático o presidente da República rapidamente esqueceu promessas de campanha para poder construir alianças capazes de garantir-lhe estabilidade e governabilidade. E como bem sabia da necessidade de oferecer moedas de troca, começou aumentando o número de ministérios, alavancando sua capacidade de distribuir cargos, verbas e empregos entre aliados de conveniência. Nesse sentido foi também um tanto repetitivo, usando a cartilha que em outros momentos condenara.
Eis que mais uma vez a roleta gira e o ministro da Justiça, o maranhense Flávio Dino, um dos mais destacados integrantes do primeiro escalão, é indicado para vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), deixando a cadeira que ocupa. O movimento em si, com a remoção de peça tão importante, pode sugerir até que ao fim e ao cabo ministérios são mesmo apenas moeda de troca, ideia reforçada quando surgem rumores de que a atual ocupante da pasta do Planejamento, Simone Tebet, poderá ser indicada para a cadeira de Dino.
Nesse caso fica a impressão de que o Planejamento, em algum momento apontado como uma das peças centrais do novo governo e, junto com a Fazenda, encarregado de devolver aos brasileiros maiores esperanças com relação ao futuro, na prática é só mais uma moeda no balaio dos arranjos. E assim, parece, a vida vai sendo tocada em Brasília, como se sucesso pudesse ser resumido em garantir o poder hoje e um novo mandato amanhã.
Tem sido assim e espanta que tão poucos percebam que não pode dar certo, não tem como dar certo.
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