Editorial

Um pacote de ferrovias pela metade diante do que seria ideal para o Brasil

Ministério dos Transportes promete revelar em breve o Plano Nacional de Ferrovias
Um pacote de ferrovias pela metade diante do que seria ideal para o Brasil
Foto: Tânia Rego/ Agência Brasil

O Ministério dos Transportes promete revelar já no próximo mês todo o conteúdo do “pacote” de investimentos do setor ferroviário – o Plano Nacional de Ferrovias –, com investimentos que poderão somar R$ 100 bilhões, em regime de concessão para uma malha de, pelo menos, 4,7 mil quilômetros. No papel pelo menos não será pouca coisa, somando investimentos privados, recursos levantados com a repactuação de concessões envolvendo a mineradora Vale e as operadoras Rumo e MRS, totalizando R$ 21 bilhões, além de verbas públicas equivalentes a 20% de cada projeto.

Conforme já antecipado pelo Diário do Comércio, a ideia central é consolidar troncos ferroviários que cortariam o País nos sentidos horizontal e vertical, desdobrados em 5 grandes projetos. Partindo da Ferrovia Norte-Sul, o primeiro deles consolidaria a ligação entre Açailândia, no Maranhão, e Barcarena, no Pará. Na Ferrovia Transnordestina seria concluída a ligação entre Eliseu Martins, no Piauí, até Estreito, no Maranhão, malha de 600 quilômetros que seria interligada à Ferrovia Norte-Sul. No sentido horizontal está previsto traçado de 2,4 mil quilômetros, de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, até Mara Rosa, em Goiás, seguindo em direção a Barreiras e Ilhéus, na Bahia. Também está previsto o Anel Ferroviário do Sudeste, ligando Vitória, no Espírito Santo, a Itaboraí, no Rio de Janeiro, conectado à malha da Ferrovia Vitoria a Minas. O quinto projeto seria a ligação de pouco menos de mil quilômetros entre Sinop, no Mato Grosso, e Miritituba, no Pará.

Para além da integração plena do sistema ferroviário, o que se pretende é melhorar as condições de escoamento de cargas de grãos, soja principalmente, que poderiam ser embarcadas também em portos do Norte-Nordeste do País, o mesmo acontecendo com embarques de minerais. Poderá ser um avanço relevante, implicando em mais eficiência e ganhos de tempo e custo, mas o projeto tal como apresentado agora não basta para disfarçar uma visão limitada.

Parece faltar ambição, se não uma visão integrada de toda a infraestrutura de movimentação de cargas no País, que prossegue excessivamente dependente do transporte sobre rodas. Não parece fazer sentido, economicamente, que os investimentos agora programados tenham como objetivo único a movimentação de cargas de commodities agrícolas e minerais, sem que nada seja dito sobre a movimentação de cargas em geral, secas e contêineres, muito menos transporte de passageiros. Nesse sentido, o “pacote” por ser revelado parece ainda distante do ideal para um país com as características e necessidades do Brasil.

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