Editorial

Papa Francisco, para além de sua Igreja, apontou o melhor caminho com simplicidade

Em 12 anos de pontificado, o líder religioso fez muitíssimo mais que reestruturar e reposicionar sua Igreja
Papa Francisco, para além de sua Igreja, apontou o melhor caminho com simplicidade
Crédito: Guglielmo Mangiapane / Reuters

Para os ritos finais do funeral do Papa Francisco, a cidade de Roma, na Itália, e mais especificamente o Vaticano ocupam neste sábado as atenções do mundo inteiro depois de uma semana de comoventes despedidas. Lá estarão, perfilados e em reverência, líderes e chefes de Estado dos mais importantes países, todos eles unânimes no reconhecimento da importância e qualidades do falecido Papa, figura verdadeiramente singular e que em 12 anos de pontificado fez muitíssimo mais que reestruturar e reposicionar sua Igreja, reaproximando-a de valores que são na realidade universais. Assim, Francisco foi, no seu tempo, a mais expressiva das lideranças, impondo-se pela simplicidade e pela humildade suas marcas mais distintas.

Alguém que chamou atenção, com coragem extrema, para as injustiças e deformidades que marcam o mundo contemporâneo, apontando diferenças e distorções ditadas pela condição econômica e que não deveriam existir, chamando atenção para a insanidade de conflitos ou apontando o despropósito do armamentismo, que implicou, somente no ano passado, em gastos que se aproximaram dos 3 trilhões de dólares. E tudo isso, lembrava o Papa, ao mesmo tempo em que o número de deserdados, de famintos e miseráveis não parou de crescer, explicitando desvios e injustiças que mancham a condição humana.

Essa ordem, na verdade desordem extrema, estará bem representada neste sábado no Vaticano pelas figuras dos líderes mundiais que lá estarão para reverenciar e se despedirem do Papa Francisco. E repetindo, hipócritas, suas virtudes e os valores que sempre defendeu como se não fosse possível perceber que eles representam também a negação de tudo aquilo que tanto os diferencia de Francisco. Só cabe esperar que este momento, para aqueles que têm o poder de realizar as transformações tão reclamadas, seja também de profunda e sincera reflexão. Ou penitência. E no entendimento elementar de que o legado do Papa não pode, não deveria, se apagar no momento do sepultamento de seu corpo.

Portanto, que possa haver sinceridade nas manifestações que se repetiram ao longo da semana e que hoje devem alcançar seu ponto mais elevado. Que não sejam vazios o reconhecimento e as homenagens que estão sendo tributadas ao falecido Papa, apenas o rito próprio de momentos em que solenidade e emoção convergem. Porque a maior das homenagens será o reconhecimento de que Francisco, para muito além de sua Igreja, simplesmente apontou, com simplicidade e humildade, o melhor caminho.

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