Papai Noel não existe

A administração federal vive curiosa contradição, tem o que comemorar mas, pelo menos em termos absolutos, não pode comemorar. A economia exibe sinais positivos e já comentados aqui mesmo, em termos de expansão da produção, além do que era esperado; preços de um modo geral deixaram de pressionar a inflação e, talvez inicialmente, o País vai recompondo sua posição externa, com reflexos bastante imediatos em termos de negócios e sem qualquer abalo por conta das intrigas que não cessam.
Em meio a tanta turbulência, como talvez nunca na história desse país, não seria exagerado afirmar também que de certa forma estamos todos diante do inesperado. Não exatamente, até porque essa moeda também tem um outro lado. Vem também de Brasília, nesses dias e de gabinetes bem situados, a informação de que as projeções para as contas públicas esse ano pioraram.
Explicando melhor: a estimativa do déficit primário passou de R$ 136,2 bilhões para R$ 145,4 bilhões e, diante das novas contas, o Ministério do Planejamento já antecipou um novo bloqueio de R$ 1,5 bilhão nas despesas não obrigatórias, espaço reservado ao custeio da máquina pública e a emagrecida conta dos investimentos. Notícia nada boa diante de orçamentos que no geral já estão bastante enxutos e do fato de que os bloqueios já decididos somam R$ 3,2 bilhões. Na realidade, ou em termos práticos, algo bem próximo também da ficção, tentativa de deixar os números mais bem arrumados, uma vez que continua sendo necessário, pelo menos no espaço das formalidades ou das boas intenções, cumprir o teto de gastos. Da mesma forma fica mais difícil, ou menos provável, levantar os recursos extras que, pelo menos na imaginação de alguns burocratas e políticos em Brasília, garantiriam que as contas públicas chegariam ao último dia do ano em situação de equilíbrio.
Diante do que está acontecendo, assim confirmando alertas que não foram poucos e que tiveram abrigo também nesse espaço, continua chamando atenção que toda a engenharia proposta para alcançar o reequilíbrio das contas públicas partiu exclusivamente da presunção do aumento de receitas, acompanhada de promessas que o tamanho da carga tributária não seria alterado. Nenhuma palavra sobre redução de gastos ou, mais amplamente, sobre a esquecida reforma do Estado justamente para dar fim à gastança, não raro na forma de privilégios e vantagens que em outras latitudes poderiam render cadeia aos beneficiários.
Resumindo, o Estado brasileiro continua gordo, pesado e, absurdamente, custando mais caro que a real capacidade de pagamento. Esperar que, nessas condições, as contas fechem seria algo comparável a acreditar em Papai Noel.
Ouça a rádio de Minas