Para bom entendedor
O presidente Lula não fez qualquer esforço para disfarçar a impaciência, em patamar bem próximo da irritação, diante da notícia de que a Comunidade Europeia decidira adiar para janeiro a assinatura do acordo de comércio com o Mercosul. E fez saber, também deixando de lado qualquer protocolo diplomático, disposição de engavetar de vez o assunto, o quanto bastou para reação mais rápida. Com a garantia, depois de 26 anos de negociações, de que o esperado acordo será firmado em janeiro. E sem riscos aparentes de novos adiamentos.
O Brasil, que vai firmando sua posição de líder global na produção agrícola e de proteínas animais, tem na União Europeia seu segundo maior parceiro comercial, superado apenas pela China. Condição e peso relevantes, mas não o suficiente para que nosso País aceite posição subalterna, fazendo concessões que já passaram da conta. Os agricultores europeus, que são muito fortes politicamente mas que perderam faz tempo a corrida da produtividade e, assim, da competitividade, simplesmente não têm como jogar de igual para igual. Já perderam e sabem disso, valendo-se de todos os meios e modos para fugir da exposição que não podem enfrentar. Assim, ao fim e ao cabo, têm mais a perder, ainda que os ranços do antigo domínio colonial ainda sejam bem visíveis na indisfarçável arrogância que costumam exibir.
Arrogância que só sustentam enquanto não encontram pela frente alguém que fale mais alto, exatamente como vez o presidente Lula ao afirmar que de uma forma ou de outra o assunto será encerrado agora. E bem poderia ter lembrado que os prometidos benefícios às exportações sob bandeira do Mercosul perderam relevância, sobretudo depois das salvaguardas unilaterais e de última hora anunciadas na semana passada. Barreiras artificiais certamente não bastarão para garantir fartura – e a preços convenientes – na mesa dos europeus. Observações que, somadas às tensões presentes nas relações com os Estados Unidos, autorizam a conclusão de que de momento o acordo em discussão é mais importante para a Europa que para o Brasil ou o Mercosul.
À frente, pouco à frente possivelmente, de pratos vazios, os europeus poderão bater às nossas portas com humildade e mais afinado sentido de urgência e realidade. Trata-se de saber esperar, de compreender a realidade enquanto a corda vai sendo esticada como se ainda pudesse ser sustentada a antiga relação de subserviência. O Brasil e o Mercosul podem esperar porque tem tempo e alternativas, o mesmo não se aplicando às condições europeias.
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