Editorial

Perguntas a responder

Com a manutenção da taxa Selic em 15%, Fernando Haddad voltou a bater forte na política de juros ditada pelo Banco Central
Perguntas a responder
Foto: Adriano Machado / Reuters

O ministro Fernando Haddad, da Fazenda, voltou a bater, e bater forte, na política de juros ditada pelo Banco Central. Falando do óbvio ele repetiu que não há como sustentar taxas de 15% enquanto a inflação está no patamar dos 4,5% e quem diz o contrário na realidade “torce contra o Brasil”. Gente que faz apostas erradas e, ao contrário de assumir seu erro, acaba simplesmente culpando o governo. Foram acusações muito graves e que, portanto, não deveriam ser esquecidas ou permanecer no terreno das excentricidades, espécie de vala comum e destino dos críticos da política monetária, tal como aconteceu com o finado vice-presidente José Alencar Gomes da Silva.

Como também acaba de lembrar o ministro Haddad, a diferença entre o remédio e o veneno pode ser a dose e o caso brasileiro reforça essa ideia. A teimosia que persiste tem nome e endereço, não sendo nada difícil apontar quem ganha e quem perde. Ou meramente entender, e como também já foi dito, que caso o remédio fosse bom e de fato o mais recomendado a essas alturas o paciente certamente estaria curado. Difícil mesmo será entender, como já apontou um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Economia, como, submetida a tais condições, a economia brasileira consegue resistir e sobreviver. Também prossegue no terreno das impossibilidades a precisa compreensão do fato de que quem mais perde é quem mais deve, precisamente o Estado brasileiro que carrega uma dívida pública cujo serviço representa, e muito de longe, o maior de todos os gastos do País. Como não enxergar? Como não fazer contas para apontar quanto terá custado ao País, ao longo de décadas de política monetária restritiva, tamanha teimosia? Alguma relação com o fato de que os bancos que operam no País exibem as mais altas taxas de lucratividade no planeta?

Não espanta que tantas e tão incômodas perguntas, assim como agora as colocações do ministro da Fazenda, sejam remetidas à conta simplista de comportamentos radicais e inconvenientes. Ou meras excentricidades de quem não entende do assunto e também não é capaz de perceber como e porque ficou reservado ao Banco Central algo como lugar no olimpo de uma “independência” que mais propriamente deveria ser definida como mera consagração de conveniências que não podem vir a lume, tão fortes que ninguém parece ter condições para, simplesmente, apontar na direção do mais óbvio.

Ou da razão tão incômoda que prossegue sendo abafada, enquanto ponderações que deveriam ser ouvidas, como no caso agora do ministro da Fazenda, caem no vazio enquanto a trajetória insana, mas inabalável, prossegue.

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