Editorial

Plano Real 30 anos: as maiores conquistas ainda estão no horizonte

Definido como um meio e não como um fim, Real não cumpriu seus mais amplos objetivos
Plano Real 30 anos: as maiores conquistas ainda estão no horizonte
Foto: Reprodução Adobe Stock

Foi uma daquelas poucas vezes em que no Brasil o impossível aconteceu e uma inflação que, anualizada, batia nos 3.000% foi, afinal, abatida. Estamos lembrando o Plano Real, lançado em fevereiro de 1984 e chegou aos 30 anos, só agora lembrado e festejado, ainda que repetindo alguns equívocos. Com as celebrações centradas na figura do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que ganhou até visita e afagos do presidente Lula, mais uma vez tenta-se apagar a figura do então presidente Itamar Franco, este sim, o corajoso patrocinador da empreitada.

Não é este o único ponto a ser lembrado. A estabilização monetária, nas alturas de 1984, algo imperativo, foi apresentada e defendida apenas como um ponto de partida, nunca de chegada, como se tudo se resumisse em conter a inflação absolutamente descontrolada. Foi dito e com absoluta clareza que se buscava condição para a retomada da economia, para o crescimento em condições duradouras, ficando certo desde então que vencida a primeira etapa, criado o alicerce de estabilidade, viriam ajustes e reformas estruturais que no conjunto definiriam as bases de uma nova e mais saudável realidade para o País, com a prosperidade sendo também a garantia de correções no campo social.

Como bem sabemos, ficou o dito pelo não dito. Injunções as mais diversas, quase todas relacionadas com o pantanoso ambiente político onde estavam alojados interesses que não podiam ser contrariados, foram arrefecendo o ímpeto inicial. E assim o que parecia certo e imediato foi sendo adiado, esquecido aos poucos durante os 30 anos que passaram. Sim, a inflação foi controlada e não será impróprio afirmar que estas condições foram mantidas nas três últimas décadas. Mas o que deveria ter sido um impulso não aconteceu e a economia do País entrou em compasso de espera, com nenhum avanço relevante, exceto e exclusivamente a expansão do agronegócio, que tem sido o esteio do País nesses anos todos.

Por tudo isso também não será exagero afirmar – e sem que seja preciso desconsiderar a importância da estabilização monetária – que o Plano Real, definido como um meio e não como um fim em si mesmo, não cumpriu seus mais amplos objetivos, venceu a inflação galopante, feriu de morte o tal dragão, mas não bastou para garantir o ingresso do País num novo – e definitivo – ciclo de expansão econômica. Sim, há que festejar que as máquinas de remarcar preços nos supermercados possam ter sido deixadas de lado, mas é preciso também entender que as maiores conquistas do Plano Real ainda estão no horizonte.

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