Editorial

Política monetária brasileira: quem perde e quem ganha?

Entenda por que o modelo adotado pelo País, centrado na manutenção das taxas de juros em patamares elevados, é questionável
Política monetária brasileira: quem perde e quem ganha?
Crédito: Marcello Casal Jr Agência Brasil

Não é pouca gente que bate no peito para garantir que a política monetária que o Brasil adotou faz tempo, centrada na manutenção das taxas de juros em patamares elevados, pode ser amarga, mas é necessária para abater o fantasma da inflação. Há quem diga também, lembrando manuais de economia acreditados, que a diferença entre remédio e veneno pode estar na dose. Fato é que, afora alguns espasmos de fácil entendimento, que a inflação no País vem sendo mantida em níveis aceitáveis desde 1994 quando o Plano Real, bancado pelo ex-presidente Itamar Franco, cumpriu a tarefa tida como impossível de abater o monstro. Um fato, porém não o suficiente para que as taxas de juros fossem devolvidas a níveis decentes.

Em tempos atuais, de relativa tranquilidade com relação ao assunto, mesmo com os juros mantidos em patamares que não deveriam ser aceitos, o assunto volta à baila e mais uma vez por conta da instabilidade externa que paira como ameaça de proporções ainda desconhecidas sobre o planeta. E o Banco Central brasileiro, dito “independente” sem que seja sabido exatamente com relação a que ou a quem, trata de alertar que a política que vem praticando, de redução gradual dos juros, pode ser estancada. Na semana passada, depois de mais uma reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) foi anunciado corte de 0,25% na taxa básica de juros (Selic), desde então fixada em 10,5% ao ano. Há quem comemore, quem diga que está tudo certo, está tudo bem e que o Banco Central, que não parece ser dependente exatamente em relação ao mercado financeiro, se mostra “responsável” e imune a ingerências políticas. Bastaria que se apurasse, com a devida seriedade, quem perde e quem ganha nessa toada para que houvesse melhor compreensão do que se passa.

Primariamente, é claro, perde quem carrega dívidas, o que nos obriga a recordar que o Estado brasileiro é, de longe, o maior dos devedores e cada ponto na taxa básica de juros, para baixo ou para cima, faz diferença de proporções absurdas e que, houvesse de fato patriotismo, definitivamente não seria aceita como mero fato consumado. A conta pode ser feita com relativa facilidade e seria reveladora. Quanto, afinal, teria custado ao País, ao longo de décadas, a política que vem sendo praticada? Estamos falando de bilhões e, pode ser, talvez, de algo além. Como afinal não enxergar? Como aceitar como positiva uma taxa de 10,5% ao ano para uma inflação que deverá ficar entre 3,5% e 4% no período? Quem acha que tem a resposta que seja convincente diante de quem paga essa conta absurda.

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