Política no diminutivo

Ainda um pouco distante de completar o primeiro ano de seu mandato, o presidente Lula estaria preparando, conforme os relatos que têm chegado à imprensa, uma grande reforma ministerial. No conteúdo, nada que impressione, a não ser o fato de que representantes do Nordeste passarão a ser majoritários na bancada ministerial, que, diga-se de passagem, continuará longe de ser, como deveria, o encontro dos melhores entre os melhores. Vai longe o tempo em que, pelo menos formalmente, foi assim ou dessa forma, tentavam apresentar o que deveria ser um corpo diretivo bem constituído e com a missão maior de fazer o melhor pelo País.
A troca hoje é escancarada, feita à luz do dia e sem qualquer espécie de pudor, onde explicitamente as verbas maiores são reservadas a quem por suposto tem mais votos e sabe muito bem medir a água e o fubá. Esperar resultados além do fortalecimento da tal “base” do governo continuará sendo um exercício de otimismo, que transcende os limites da prudência. Outra não poderá ser a conclusão de quem se der ao trabalho de acompanhar as discussões em andamento ou verificar os nomes, na maioria ilustres desconhecidos, que estão em pauta. Aliás, como a ministra já defenestrada cujo marido é figura influente na Baixada Fluminense.
São contingências esperadas da troca que foi estabelecida como norma e que vem dos tempos em que o pluripartidarismo foi concebido não para dar voz e espaço a todas as tendências, mas, sim, e maquiavelicamente talvez, para criar espaços de manobra. Sem ideologia, sem programas e, muito menos metas, assim surgiram as tais “siglas de aluguel” que nunca se envergonharam do nome que receberam e têm como natural e aceitável que determinado parlamentar tenha realizado a proeza de ser líder de todos os governos no período pós-redemocratização. Tudo tão natural quanto medir escolhas pelo tamanho dos orçamentos envolvidos ou reclamar, sempre, receber ministérios “de porteiras fechadas”.
Tantas e tamanhas nulidades deixaram como resultado não mais que as ditas “décadas perdidas”, enquanto a reforma política, de início imaginada para dar o devido alicerce à Constituição de 1988, foi sendo postergada justamente para dar espaço a arranjos muitíssimo mais convenientes e sob a farsa de que o pluripartidarismo seria mais coerente como a democracia tão esperada e tão desejada. Tivesse sido diferente e diferente também teria sido o destino do Brasil e de todos nós, que chegamos a nos imaginar bem próximos, quase dentro na verdade, do dito Primeiro Mundo. Nos resta a realidade do futuro que prossegue como expectativa não alcançada.
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