Editorial

Ponto de equilíbrio

Aparentemente, os norte-americanos não têm pleno conhecimento da realidade brasileira
Ponto de equilíbrio
Foto: Imagem gerada por IA

Como uma espécie de balde de água fria depois da manifestação de simpatia, ou de “química” conforme suas palavras, do presidente Donald Trump com relação ao presidente Lula, o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, parece ter apontado na direção contrária. Ele disse, em entrevista a uma das redes de televisão de seu país, que é preciso “consertar o Brasil” para que o País “pare de prejudicar” os EUA. Para quem tem em mãos o histórico das relações entre os dois países, particularmente no que toca ao comércio bilateral, o sentimento de perdas não tem como se sustentar, muito menos a possibilidade de que possamos “prejudicar” o vizinho. Em defesa desse ponto de vista, bastaria lembrar o superávit comercial acumulado pelos EUA nas suas trocas com o Brasil. Mais amplamente, as relações históricas de negócios e investimentos, mantidas em patamares que igualmente não avalizam críticas ou contestações.

Parece mais próximo da possibilidade de compreensão o entendimento de que, na verdade, os norte-americanos não têm pleno conhecimento da realidade brasileira e assim são apenas reativos. Sentar e conversar, estabelecer bases de verdadeira cooperação, assim entendido o convite indiretamente formulado pelo presidente Trump, impõe uma dose maior de realismo, calcado em informações melhor alinhavadas para, afinal, sustentar a conclusão de que os Estados Unidos têm sido, sim, atendidos em seus interesses fundamentais nas relações com o Brasil.

E também compreenderem melhor o que nosso presidente quer dizer quando lembra, e elementarmente, que “o Brasil é dos brasileiros”, condição que não está em discussão, muito menos em negociação. Algo que, nas condições presentes, em que o bilateralismo volta a ser acentuado e as suas potências globais, precisamente Estados Unidos e China, buscam reforçar suas áreas de influência, bem podem reservar ao Brasil posição decisiva. Nos cabe saber apontar para a realidade, saber negociar e preservar o entendimento de que não desejamos alinhamentos automáticos, para um ou outro lado, e sim construir uma posição de equilíbrio e equidistância da qual todos podem se beneficiar.

O Brasil, por suas condições e características, pode e deve, com sentimento absoluto de independência e autonomia, ser ponto de encontro e de equilíbrio no plano das relações internacionais, chamando todos à razão e ao bom senso. Eis o que precisa ser dito e compreendido, eis o verdadeiro ponto de convergência e que bem pode ser decisivo na geopolítica global, na construção da paz.

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