Por que a indústria não reage

O presidente Lula desembarcou em Brasília há pouco mais de um ano apontando como uma de suas prioridades para a economia a recuperação do setor industrial, segundo suas palavras, locomotiva da recuperação e do crescimento. Na verdade, foi além da promessa, chegando a anunciar um programa – a nova indústria – que alavancaria o processo, com investimentos que alimentariam e dariam suporte ao crescimento da economia, com empregos de qualidade e geração de riquezas. Apesar das intenções, do reconhecimento da importância do setor inclusive para dar novo significado e relevância à participação brasileira no comércio externo, os avanços verificados neste ano e pouco – crescimento de 1% para o setor industrial no período de 12 meses completado em fevereiro – ficaram aquém das expectativas.
Os números há pouco exibidos são efetivamente modestos e preocupantes, apontando queda na produção industrial de 1,5% no mês de janeiro e de 0,3% em fevereiro. Na comparação com igual período do ano passado a indústria brasileira cresceu 5%, o que ainda assim significa dizer que o setor manufatureiro opera, presentemente, 1,1% abaixo do nível pré-pandemia. Tudo isso traduz um processo contínuo de empobrecimento do País, percebido desde a última década do século passado, com perda de qualidade das atividades econômicas cuja sustentação volta a repousar no setor primário. Vale dizer, o processo de desindustrialização apontado em mais de uma ocasião pela Federação das Indústrias de Minas e várias outras entidades prossegue, sem sinais de que esteja, pelo menos, a caminho de ser contido.
A mais precisa compreensão do que se passa começa pelo reconhecimento de que este é um processo estrutural, resultante da redução de investimentos internos em infraestrutura e energia, bem como da inconsistência do modelo econômico, tudo isso agravado pelo exponencial crescimento da economia chinesa, com projeção e danos globais. O Brasil não só foi atingido como se revelou lento ou incapaz de reagir, o que resultou em danos evidentes para a produção interna incapaz de fazer frente à concorrência chinesa. Perderam-se, inclusive, posições já consolidadas como na indústria naval, de material bélico, autopeças, brinquedos, eletrônica, calçados, têxteis e confecções.
Um processo que ao longo das últimas décadas foi acompanhado com a mais absoluta inércia, justamente a situação que o presidente Lula prometeu mudar ao assumir seu terceiro mandato. Como está dito acima, os números agora exibidos não registram avanços na escala minimamente necessária e só podem ser tomados como advertência a ser seriamente considerada.
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