Editorial

Por que a Bravo Motors desistiu de Minas Gerais

Pressões políticas e, sobretudo, falta de visão de sucessivas administrações no Estado ajudaram a mudar o rumo desses novos investimentos
Por que a Bravo Motors desistiu de Minas Gerais
Além de fabricar veículos elétricos e baterias de lítio, empresa sediada nos EUA produz sistemas de armazenamento de energia | Crédito: Bravo/Divulgação

O parque industrial da Fiat, hoje integrante do grupo Stellantis, em Betim, representa o segundo maior polo da indústria de material de transportes no País e na América Latina. A unidade montadora de veículos leves e o complexo de fornecedores no seu entorno, que começou nascer nos anos 70 do século passado, ajudaram a mudar o perfil da indústria local e, para o País, significaram também o início da descentralização do setor, num processo que não se completou nas décadas seguintes e ainda enfrentou o fracasso, depois de decisões equivocadas da Mercedes-Benz em Juiz de Fora. O que se imaginava era que o novo ciclo de investimentos fosse orientado para Minas Gerais, dando escala e robustez ao polo regional e bem aproveitando suas vantagens. Pressões políticas e, sobretudo, falta de visão de sucessivas administrações no Estado ajudaram a mudar o rumo desses novos investimentos.

Empresas como a General Motors, que chegou a escolher Minas como destino de uma unidade montadora que acabou deslocada para o Rio Grande do Sul, ou Volkswagen, que optou pelo Rio de Janeiro depois de focar suas atenções no Estado, deveriam estar na linha de frente nesse novo ciclo de investimentos. Tudo isso no entendimento de que o Estado representa, no mundo, uma das regiões que oferece melhores condições para abrigar esse tipo de empreendimento, o que não parece ter sido percebido também pelos investimentos chineses que mais tarde aportaram no País. Como o caso mais recente da Bravo Motors, que chegou a confirmar investimentos na Região Metropolitana de Belo Horizonte, para produção de baterias e veículos elétricos, e na semana passada anunciou que se instalará na Bahia. E por conta, simplesmente, de ofertas, no curto prazo, mais atraentes.

Tivesse havido, por parte das autoridades locais, na virada do século, maior visão e sensibilidade com relação ao ciclo de investimentos que se materializava e teríamos hoje uma outra e bem diferente realidade. No período, vale lembrar, a produção nacional de material de transportes mais que dobrou. Minas Gerais perdeu assim a maior das oportunidades de sua história para mudar o perfil da economia local, consolidando sua posição relativa no País e muito provavelmente a indústria, a economia mineira, teriam dado um salto ainda maior que aquele dos anos 70.

A recente decisão da Bravo, longe de constituir caso isolado, precisa ser avaliada e compreendida nesse contexto. Somente assim os erros cometidos poderão ser corrigidos, devolvendo-se à economia regional, a vitalidade e a liderança que nos fazem enxergar os anos 70 do século passado com saudade. Fomos capazes, poderemos ser novamente.

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