É preciso manter o foco para negociar a sobretaxa dos EUA sobre produtos brasileiros

O tempo vai passando e a data fatal se aproxima, sem que venham de Washington sinais mais claros de disposição para negociar, mantida assim a ameaça de aplicação de sobretaxa de 50% sobre as importações brasileiras. São evidentemente incertezas de largas proporções, bem ao estilo do padrão que o presidente Donald Trump pretende impor em escala planetária com a força abafando as possibilidades de entendimento, menos ainda de colaboração e equilíbrio. Em síntese, uma nova ordem que parece estar sendo desenhada para decretar o fim do multilateralismo e dos padrões estabelecidos ao fim da Segunda Guerra Mundial. Vale para o Brasil, vale, mesmo que com nuances diferenciadas, para todos.
Cabe enxergar, cabem novos exercícios de planejamento, diplomacia e, talvez, sobretudo, de construção de alternativas. Cabe também fugir do alarmismo, manter o foco para não cair nas tentações da boataria, colocando assim toda a questão nas suas mais precisas dimensões, com entendimento tão preciso quanto necessário da proporção das ameaças, mas igualmente das oportunidades que possam estar surgindo. Afinal, com um respiro profundo, com a clareza de que o diabo pode não ser tão feio como está sendo pintado. O medo, não nos esqueçamos, é parte fundamental da estratégia.
Construir alternativas não significa, conforme muitos parecem acreditar, nos jogar nos braços e no colo de outros parceiros. Trata-se em primeiro lugar de perceber, conforme já foi dito neste espaço, que as promessas de colaboração, entendimento e bons propósitos, sempre em condições igualitárias, podem não passar de enorme ilusão. O jogo jogado é o jogo da força e as regras continuarão sendo a conveniência dos mais fortes, daqueles que ao fim e ao cabo ousam dizer que “de uma forma ou de outra” a sua vontade será atendida. Eis porque cair nessa armadilha bem pode ser simplesmente repetir o passado, apenas com coloração diferente.
Melhor nos parece continuar acreditando que podemos buscar novos e mais largos espaços, espaços próprios e mirando autonomia ou pelo menos melhor compreendendo os riscos de colocar todos os ovos numa mesma cesta. Nesta simples compreensão, mesmo que absolutamente elementar, pode estar o principal bônus de toda a turbulência experimentada nos últimos dias, semanas e meses. E assim apagadas as ilusões de harmonia, entendimento e colaboração que em parte sustentaram a ordem global a partir da segunda metade do século passado. Entendendo que neste plano e nesta perspectiva o Brasil tem a sorte de contar com diferenciais que lhes são amplamente favoráveis.
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