A primeira mudança necessária para o reequilíbrio fiscal

O reequilíbrio fiscal, agora num cardápio que passou a incluir redução de gastos, volta ao centro dos debates e depois do ministro da Fazenda coube à ministra do Planejamento, Simone Tebet, reafirmar o empenho do governo em encontrar as soluções reclamadas, ilustrando sua afirmação com o anúncio de que reuniões da equipe econômica para tratar do assunto serão diárias e não mais duas vezes por semana. Segundo ela, “tudo está na mesa e nada será interditado”, inclusive temas tão sensíveis como o regime de aposentadoria para os militares ou os supersalários.
Simone Tebet, uma figura que no atual governo tem atuado nos bastidores onde parece ter papel relevante, foi mais longe nas suas considerações, depois de dizer que tem “uma avenida” de possibilidades para responder aos desafios que estão colocados. Para ela, mais que tocar neste ou naquele ponto, o mais necessário é que ocorra no País uma mudança de mentalidade com relação aos gastos públicos, no entendimento de que a luta é pelo Brasil mais que pelo governo ou qualquer de seus personagens. E muitíssimo menos, evidentemente, por interesses que não sobreviveriam à luz do dia, caberia acrescentar, independentemente da fala da ministra e sim para situá-la num contexto mais amplo.
Trata-se de enxergar a realidade para que seja possível compreender como e porque o Estado brasileiro foi perdendo forma e conteúdo, sequestrado por interesses que não são aqueles que deveria abrigar. Interesses e conveniências que ocuparam e desvirtuaram também o espaço político chegando assim à gestão pública. Tudo isso tendo como resultado final uma disfuncionalidade que precisa ser reconhecida e tratada. Algo que ajudará a compreender – e aqui apenas como exemplo – porque o Congresso Nacional mantenha na sua folha de pagamentos ascensoristas embora utilize elevadores automáticos, o Judiciário pague funcionários apenas para colocar togas nos ministros do Supremo ou o Executivo mantenha frota de jatos para atender o primeiro escalão do governo.
Tudo isso e muito mais, é claro, pode e deve ser cortado, mas nada acontecerá se antes não acontecer, de fato, a mudança de mentalidade conforme a ministra do Planejamento tão oportunamente assinalou. Pior, num comportamento banalizado pela repetição ou pelo resultado de um longo processo histórico em que os limites entre o público e o privado sempre foram propositadamente confundidos
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