Editorial

Privatização da Usiminas segue trajetória que ameaça o futuro da siderúrgica

Após mais de três décadas de sua privatização, empresa ainda não alcançou o patamar esperado
Privatização da Usiminas segue trajetória que ameaça o futuro da siderúrgica
Foto: Divulgação Usiminas

Apresentada como “a joia da coroa”, a Usiminas foi privatizada em 1991, no governo Collor, dando início a um processo então apresentado como de busca de modernidade e eficiência, capaz de devolver competitividade à indústria brasileira. Havia quem acreditasse que a própria empresa, então a maior siderúrgica do País, detentora de padrões de eficiência reconhecidos internacionalmente, ingressaria, com o movimento, num novo patamar de competitividade e crescimento. Após mais de três décadas, verifica-se que a realidade não correspondeu às expectativas e tudo por conta, especialmente, de desentendimentos entre os sócios controladores, a Nippon Steel, presente desde a fundação da empresa e responsável pela transferência de tecnologia que viabilizou suas operações, e a ítalo-argentina Ternium, hoje o acionista com maior participação na empresa.

No mais recente capítulo da novela em que se transformou a trajetória da Usiminas, e exatamente na direção oposta ao que se pretendia com a privatização, surge como ameaça decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que obriga a Ternium a pagar multa de R$ 5 bilhões à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Os temores são de que a sentença possa acabar condicionando futuros investimentos do grupo e a um ponto que pode chegar a ameaçar o próprio futuro da Usiminas. Movimento batizado Agenda de Convergência do Vale do Aço, que envolve 64 entidades da região, chama atenção para o impasse que pode ser criado e ir além da redução de investimentos para chegar à desmobilização da siderúrgica, afetando também toda a cadeia de negócios no seu entorno.

Uma ameaça que certamente escapa aos limites do Vale do Aço para alcançar todo o Estado, colocando a nu as ideias equivocadas com relação às empresas estatais que foram o núcleo do processo de industrialização e expansão da economia brasileira a partir da segunda metade do século passado. Entender este processo, do qual a Usiminas foi parte significativa, implica entender também que existe algo maior a defender, acima e além dos interesses dos atuais acionistas da empresa. Rever a história e a trajetória da Usiminas, reconhecer o idealismo de seus fundadores e o contexto em que se deu a implantação da usina de Ipatinga, implica no entendimento daquilo que, verdadeiramente, deveria estar em primeiro plano. Ou quais seriam exatamente os maiores valores a considerar.

E partindo desse ponto é que se deve esperar que do plano judicial venham luzes e não trevas que podem dar cabo aos sonhos que puseram de pé a Usiminas.

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