Problema a resolver

A partir da segunda metade do século passado, e mais notadamente nos anos do governo do presidente Juscelino Kubitschek -1955 a 1960 –, o Brasil deu um salto determinante para o seu futuro, especialmente no campo da economia. Foram avanços, a partir do planejamento, estabelecimento de metas e muita ousadia que representaram a base, ou alicerce, para a expansão e modernização da economia. Tudo isso, evidentemente, e sem que o brilho de JK possa ser ofuscado, combinando acertos e erros, um deles a opção pelo transporte rodoviário, escalando a máxima do também ex-presidente Washington Luiz para quem governar seria abrir estradas. Equívoco absoluto num país de dimensões continentais, em que as opções mais naturais seriam as ferrovias, navegação interna e de cabotagem, num sistema integrado que seria apenas alimentado, no inicio e no fim dos percursos, pelas rodovias.
JK, entusiasmado também com a indústria de material de transporte, olhou apenas nessa direção, daí resultando distorções que ajudam a alimentar o dito “custo Brasil”, comprometem a competitividade, inclusive no setor agrícola e criam uma dependência de custo político, estratégico até, bastante elevado.
Hoje, segundo dados oficiais, mais de 60% da movimentação de cargas se dá sobre rodas de caminhões cujos motores queimam, na quase totalidade, óleo diesel, na atualidade dependente de importações que resultam num custo final indesejado. Algo tão ou mais grave quando os caminhoneiros, reconhecidamente sacrificados, sabem de sua condição, mas sabem também que “se os caminhões pararem o Brasil também para”.
É justo nesse ponto que o círculo perverso, indesejado, se fecha para se transformar numa chantagem permanente, que por sua vez gera insegurança a um ponto intolerável. Como ocorre nesse exato momento, em que tanqueiros, empresas ou profissionais autônomos que operam no transporte de combustíveis líquidos, ameaçam paralisar suas atividades, por enquanto numa ação restrita a Minas Gerais caso o governo local não recue da sua decisão de começar a cobrar o Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) agora em janeiro e não mais em março, como ocorreu nos últimos anos.
Ensaia-se algum tipo de negociação, mas a ameaça está de pé e se cumprida pode significar desabastecimento e, portanto, um efeito dominó.
No essencial os transportadores têm bons motivos para queixas, mas o serviço que operam, essencial e estratégico, não pode estar sujeito a esse tipo de situação, uma chantagem que em certos aspectos é permanente, inclusive com derivativos políticos bem conhecidos e igualmente incompatíveis com uma sociedade democrática. O presidente Juscelino, o mineiro JK, certamente nunca imaginou que ao apadrinhar o transporte sobre rodas poderia cometer um equívoco das proporções hoje percebidas. Que haja entendimento da realidade e a partir daí buscadas melhores soluções dentro dos caminhos naturais, sem espaço, portanto, para abusos como os que têm ocorrido.
Ouça a rádio de Minas