Editorial

Quem ganha e quem perde com as taxas de juros do Brasil

"A decisão unânime do Copom não foi surpresa, o que também não aconteceu com relação aos seus fundamentos"
Quem ganha e quem perde com as taxas de juros do Brasil
Crédito: Marcello Casal Jr Agência Brasil

O Comitê de Política Monetária do Banco Central decidiu, na reunião da última quarta-feira, interromper a lenta e gradual trajetória de redução das taxas de juros no País. Conforme já amplamente noticiado, a taxa básica de juros foi mantida em 10,5%, patamar que, segundo as primeiras análises, deverá ser mantido pelo menos até o mês de dezembro. A decisão unânime do Copom não foi surpresa, o que também não aconteceu com relação aos seus fundamentos. Entende-se que a conjuntura externa, a partir principalmente dos conflitos na Ucrânia e Israel, implica em instabilidade na economia, com reflexos, por exemplo, nas taxas de juros praticadas nos Estados Unidos, tudo isso compondo um quadro adverso ao Brasil onde a inflação anualizada, segundo sempre as estimativas do BC, poderá chegar aos 4% até dezembro.

Estranho que não tenha sido feita nenhuma conta que aponte os custos reais de políticas restritivas cujo efeito mais raso pode ser resumido no empobrecimento coletivo. Ou na lembrança, sempre sábia, de que a diferença entre remédio e veneno pode estar justamente na dose. Houvesse um olhar mais amplo e focado não mais no interesse do onipresente “mercado” e muito provavelmente as conclusões seriam bem diferentes, partindo de raciocínios opostos aqueles que prevalecem na atualidade e acabam de ser reafirmados. Trata-se de enxergar o que realmente importa, o que no caso presente não é nada difícil de perceber.

Será bastante, nesse raciocínio, a partir do ano de 2003 quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse pela primeira vez, tendo como companheiro o vice-presidente José Alencar Gomes da Silva. O vice tomou a si a defesa da redução das taxas de juros, chegando a apontá-las como “indecentes”. Mais de duas décadas passaram e a rigor nada aconteceu. Assim bastaria determinar quando o Brasil pagou pelo serviço da dívida pública durante todo esse tempo para a elementar conclusão de que, de fato, alguma coisa está muito errada e os interesses do País absolutamente não estão sendo levados em conta.

Verificar quem ganha e quem perde é o mesmo que o mais elementar raciocínio. Faltaria apenas recordar que estudos também divulgados na semana que termina mostraram que os juros reais praticados no País, hoje em torno de 7% ao ano, só perdem no planeta para a Rússia, situação que igualmente perdura faz longo tempo, ajudando a desmontar o raciocínio dos que ainda defendem o que chamam de cautela em relação aos riscos representados pela inflação. 

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