Uma questão de bom senso

Ao tomar posse há um ano, o presidente Lula reafirmou o compromisso de zerar o déficit público já no corrente exercício e, também, de ampliar investimentos, segundo ele a principal garantia de que as rodas da economia possam girar na velocidade desejável. E acrescentou, adiante, que a prioridade seria a retomada de obras paralisadas, segundo suas contas pelo menos 14 mil em todo o País. Embora tenha constatado que o buraco nas contas públicas é bem maior que as avaliações da administração anterior, o objetivo definido é mantido de pé, mesmo que para muitos pareça impossível alcançá-lo no tempo estimado, algo que exigiria disciplina e, de certa forma, renúncia aos objetivos políticos do próprio presidente e de seu partido. Afinal, abrir canteiros de obras é mais que atender demandas reprimidas, significando também angariar simpatias e, adiante, votos.
Eis o dilema que em Brasília ocupa as atenções no círculo do governo e no entorno político, ajudando também na compreensão da até aqui teimosa recusa em cortar gastos na escala necessária ou da ilusão de que o equilíbrio pode ser alcançado com ampliação da receita. Enquanto isso permanece esquecida, ou de banda, a promessa de abrir espaços no orçamento justo para dar andamento às obras paralisadas. Também aqui estão de pé as promessas feitas na campanha e adiante, porém ainda sem sinais de que estejamos caminhando nessa direção. Na prática a teoria é diferente, assim como podem ser diferentes os interesses e ambições dos políticos que precisam ser acarinhados.
Tudo isso faz recordar que no Brasil, e de longa data, o setor público gasta muito e gasta mal, sendo, portanto, elementar o entendimento de que qualquer esforço para mudar e melhorar a gestão dos recursos públicos deveria partir desse entendimento. Até porque, evidentemente, sem que este caminho seja percorrido não há como imaginar que seja possível conter a gastança e, adiante, recalibrar entradas e saídas nos cofres públicos. Trata-se da mesma lógica que necessariamente conduz ao entendimento de que atacar obras paradas – e onde estão atolados recursos estimados em pelo menos R$ 50 bilhões – seria a saída mais inteligente.
Mais que cobrar promessas de campanha, de momentos solenes e repetidos ao longo do ano que passou, cabe destacar que se está pontuando a lógica elementar de respeito e uso adequado dos recursos públicos. Uma prática um tanto esquecida, embora continue sendo também a melhor para render dividendos políticos de qualidade.
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