Por que a reconstrução do Rio Grande do Sul pode ser uma oportunidade e uma lição para todo o Brasil

À medida que as águas vão baixando no Rio Grande do Sul, a extensão da tragédia que se abateu sobre o Estado vai sendo mais claramente percebida. Cidades inteiras virtualmente desapareceram sem que nada tenha parado de pé diante da impossibilidade de deter a força das águas. Milhares, centenas de milhares de casas, foram varridas, negócios, na indústria, no comércio e na agricultura também foram destruídos, estimando-se que as perdas diretas na economia possam ter passado dos R$ 600 bilhões. Nada semelhante jamais ocorreu no País, chamando atenção de forma contundente para os riscos assumidos por quem coloca as questões ambientais em segundo plano. Contar as perdas, entender o que exatamente aconteceu e se pôr de pé sem esmorecimento são as tarefas mais imediatas para os gaúchos, com solidariedade, apoio e participação de todos os brasileiros. Trata-se de buscar forças na comoção para quem sabe, fazer diferente e melhor.
Primeiro, evidentemente, na avaliação dos riscos ambientais num processo que leve a atenção e cuidados necessários, minimizando dessa forma riscos futuros. Tudo isso com rigor técnico e apuro científico, sem riscos da indesejável contaminação política da qual, mesmo em condições tão sensíveis, já existem sinais bastante claros. Distante do oportunismo e da conveniência, cabe esperar que prevaleça, afinal, não o tal “espírito público”, tão falado quanto desgastado, e sim o interesse público na sua integridade. Terá sido avanço de enorme significado. Porque é possível enxergar a possibilidade de um recomeçar muitíssimo diferente das práticas usuais.
O governador gaúcho já disse, e depois das primeiras avaliações, que cidades inteiras ou alguns dos pontos mais atingidos deverão ser realocados. Faz sentido. Trata-se de não repetir os mesmos erros ou simplesmente entender que não sendo possível enfrentar a natureza é preciso saber conviver com ela ou até saber contorná-la. Entendendo também que parte dos problemas que agora chegaram a proporções nunca antes imaginadas foi consequência esperada da ocupação desordenada, sem planejamento e até predatória. Mais do mesmo e despois do que aconteceu seria o mesmo que rematada estupidez.
Refazer, reconstruir, num esforço que de antemão sabe-se que será gigantesco é também oportunidade para, afinal, reparar os erros cometidos, fugir de um confronto que não há como vencer. Nesse sentido, o Rio Grande do Sul, com todo o sofrimento que carrega no momento, pode estar diante de uma oportunidade. E de uma lição para o Brasil inteiro.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
Ouça a rádio de Minas