Recorde da safra agrícola: motivos para comemorar e refletir

Possivelmente faltaram foguetes para as comemorações depois que foram conhecidas as primeiras previsões para a safra agrícola deste ano. A produção, segundo cálculos que ainda não são definitivos, deve somar pelo menos 328 milhões de toneladas de grãos, o que significa incremento de 10% na comparação com os resultados do ano passado. Mais um recorde para o agronegócio brasileiro em sequência a um ano de resultados mais tímidos, abaixo do esperado, por conta dos humores climáticos. Apenas para a produção de soja, é aguardado incremento de 13%, com a colheita elevada a 166 milhões de toneladas.
São, de fato, motivos de sobra para comemorar, embora seja preciso considerar o outro lado da moeda ou que nem tudo é festa. A escalada da produção, em poucas décadas, bastou para fazer do Brasil um dos maiores produtores agrícolas no planeta, não sendo exagerado afirmar que o país, hoje, ajuda a alimentar o mundo. Foram ganhos notáveis no que toca à produção e produtividade, porém, até agora sem contrapartida necessária de investimentos de suporte nos processos de colheita, armazenamento e transporte, em que as limitações existentes implicam em perdas estimadas em, por baixo, 30% do total produzido.
Definitivamente não é pouca coisa, bastando lembrar que, encerrada a colheita, terão faltado silos para armazenar, pelo menos, 180 milhões de toneladas. Conhecida a realidade, o sucesso passa a ser um tanto relativo, transformando a perspectiva de produção no campo crescente e sustentada em aposta de certo risco. Como está dito acima, faltam armazéns e silos, faltam melhorias nos sistemas de escoamento da produção, faltam portos e estrutura para embarque. Para os produtores, diretamente, faltam também garantias de acesso ao crédito e, claro, melhores condições para amortização das dívidas.
Estão sendo reclamadas, em síntese, condições para que, efetivamente, seja possível fazer mais e melhor, num processo que tenha continuidade. Tais demandas, todos deveriam saber, absolutamente não são novas. Cabe entender, ou enxergar, que sem suporte adequado à linha de frente, no campo, não tem como manter o terreno conquistado e avançar mais. Constatação elementar de uma realidade que o setor público, de onde deveriam vir as respostas, parece não ter compreendido.
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Assim, cumprida a etapa das comemorações, cabe esperar, depois de tantos e sucessivos recordes, que haja tempo também para reflexões e ações que levem a resultados ainda melhores no campo.
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