Redes sociais: ameaça da desinformação demanda medidas de contenção

Se acaso ainda pudessem existir dúvidas quanto ao fato de que a desinformação sustentada por mentiras foi transformada em ferramenta política, agora potencializada pela informática, acontecimentos recentes deram fim à ideia equivocada. E tanto quanto à igualmente enganosa teoria de que impor disciplina, regras e controles às redes sociais e mais amplamente à própria internet guardaria relação de equivalência com alguma forma de censura ou arbitrariedade.

Ledo engano e não poderá ser outra a conclusão de quem se der ao trabalho de registrar a movimentação, em proporções talvez inéditas, para desacreditar, confundindo, decisões recentes no âmbito do governo federal e relativas, principalmente, aos processos de pagamentos e transferências via Pix.

Uma ação deliberada, muitíssimo bem coordenada e que atingiu para além do governo atual ou dos partidos políticos que lhe dão abrigo. Prejuízos sim, e numa escala que reclama reação equivalente, para a população brasileira, para serviços essenciais e para a própria economia. E tudo isso coincidindo, cabe registrar e ressaltar, com recentes decisões de empresas que estão por trás das redes sociais e que nos Estados Unidos anunciam o abandono dos incipientes mecanismos de moderação que, mesmo numa escala longe de ser satisfatória, lhes impunha algum controle. É a ideia de liberdade maldosamente utilizada para provocar exatamente o contrário.

Mesmo que já tenha sido esclarecido que as mudanças anunciadas se aplicam exclusivamente aos Estados Unidos, é difícil, se não de todo impossível, acreditar que assim será, mesmo porque a falta de filtros ainda que localizada já seria bastante para ameaçar processos civilizatórios, considerado o peso econômico e político daquele país.

Restaria assim apontar que cresce de importância a adoção de medidas de contenção, tal como vem sendo discutido, e com alguns avanços relevantes, em países da Comunidade Europeia e no Canadá. Prevalece a ideia do interesse social, entendendo-se como ameaçados os pilares dos modelos políticos e culturais sobre os quais está assentada a cultura e a sociedade contemporânea. Sem qualquer tipo de exagero, é disso precisamente que se trata e não são mais hipóteses e sim fatos que legitimam as preocupações anotadas.

Ao Brasil, aos brasileiros e a seus representantes na esfera política, só cabe entender o que está acontecendo para, e minimamente, dar agilidade às discussões sobre reações que só podem ser entendidas como impositivas e diante das quais já não há espaços para protelação.