Editorial

Redução do desemprego dependente de políticas habitacionais pode ser um tiro no pé

Estamos diante de algo que não soa nada bom
Redução do desemprego dependente de políticas habitacionais pode ser um tiro no pé
Crédito: Tomaz Silva/Agência Brasil

O desemprego, que chegou , em passado ainda recente, a proporções um tanto inquietantes no País, foi substancialmente reduzido nos últimos dois anos. Resultados expressivos que foram alcançados, que se tornaram possíveis, especialmente por conta do aquecimento da demanda na área da construção civil, que igualmente conheceu patamar de crescimento expressivo no período. Algo a preservar, da mesma forma que políticas públicas que ajudaram a consolidá-los, embora presentemente pareçam ameaçados, sob risco, tudo dependendo dos rumos da política habitacional.

Vamos aos fatos: informações que vieram a lume recentemente dão conta de que o financiamento de imóveis usados no País com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) desabou nos últimos meses, após mudanças nas políticas públicas, reorientadas para privilegiar imóveis novos e lançamentos. Foi uma guinada contundente. Conforme a Caixa Econômica Federal, no programa Minha Casa, Minha Vida caiu 85% nos últimos dois meses a liberação de crédito para aquisição de imóveis usados. Para cotistas que ganham mais de R$ 8 mil, o recuo chegou a 98% entre os meses de maio e outubro. Em termos mais claros e objetivos, os dados agora apresentados permitem afirmar que o financiamento de imóveis usados, justamente na fatia mais dependente de suporte público, está paralisado no País.

Estamos diante de algo que não soa nada bom. Se a intenção foi beneficiar negócios com imóveis novos, não nos parece difícil afirmar que os autores da ideia, que assim sugerem desconhecimento da realidade, podem ter acabado dando um tiro no próprio pé. Ou colocando em risco todo o mercado imobiliário e a construção civil, situação que se não for revertida em pouco tempo alcançará também o mercado de trabalho.

Certamente que não será, neste particular, o melhor dos mundos tendo em conta precisamente que como regra praticamente geral nos negócios no mercado imobiliário, justamente como ocorre no comércio de veículos leves, são impulsionados por troca. Ou seja, para comprar um imóvel novo o interessado quase sempre dependerá da venda de um imóvel usado, realizando-se assim, na prática, o equivalente a uma troca, não podendo existir um movimento sem que o outro também aconteça. Assim o conhecimento da realidade, que não poderia ter faltado aos estrategistas de Brasília, indica que o caminho escolhido vai na direção de novos e maiores problemas, com repercussões que só podem ser tidas como indesejáveis.

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