Ganhadores e perdedores: a relação injusta entre mineradoras e municípios

Três nomes brasileiros – Vale, Petrobras e Banco Itaú – aparecem na lista de 20 empresas que, no mundo, ofereceram a seus acionistas, num período de 25 anos, melhor rentabilidade. No grupo, as brasileiras ocuparam o 6º, o 13º e o 20º lugares, respectivamente, num ranking elaborado pelo Boston Consult Group a pedido do jornal “Valor Econômico”, considerados ganhos realizados entre os anos de 1999 a 2023 de duas centenas de empresas de atuação global.
Uma mineradora australiana – Fortescue –, que tem interesses no País, aparece em primeiro lugar, com retorno médio de 46% ao ano para seus acionistas, cabendo à Vale a 6ª posição, com rentabilidade média de 26% ao ano; a Petrobras em 13º com o chamado “rendimento total para o acionista”, de 22% ao ano; e o Banco Itaú na vigésima posição como resultado de ganhos médios de 20% ao longo de 25 anos para seus acionistas. Conforme as avaliações, a posição da Vale foi conquistada por conta, principalmente, da maior demanda chinesa por minério de ferro e consequente alta de preços no início do século. Já a Petrobras alcançou destaque na lista por conta, segundo os analistas, de ganhos de eficiência nos últimos anos e maturação da exploração no pré-sal, enquanto o Banco Itaú teria se beneficiado da escalada dos juros durante a pandemia.
Sobre a mineradora Vale, o destaque brasileiro no ranking, cabe lembrar que a empresa nasceu em Minas Gerais, tendo crescido e se capitalizado para chegar à condição de maior mineradora de minério de ferro no planeta a partir da cidade de Itabira. Uma trajetória, percebe-se, que resultou em ganhos vultosos para os acionistas, notadamente a partir da transferência de seu controle em 1997 ao consórcio liderado pela CSN e Bradesco, sem contrapartida minimamente equivalente para o município e para o Estado. Na realidade, as feridas, ou os buracos, deixadas pela mineração ficam apenas mais visíveis ou mais expostas quando cotejados com números como os que acabam de ser expostos.
Uma relação injusta, perversamente desequilibrada, fazendo lembrar que a herança das atividades minerárias, e desde o período colonial, tem sido para Minas Gerais a miséria diante da qual não parecem existir alternativas verdadeiramente compensatórias. E o conhecimento da realidade, agora exposta de maneira a não permitir dúvidas, deveria ser impulso para mudança de atitude e tendo em conta, para além das perdas pretéritas, a possibilidade de ganhos equilibrados, justos, que poderão estar ao alcance da vontade a da determinação dos mineiros no novo ciclo de expansão que pode estar no horizonte do setor e somente assim se justificaria plenamente.
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