Editorial

Relações internacionais não podem fomentar a desigualdade

Em discurso na ONU, o presidente Lula abordou o assunto durante assembleia em Nova York
Relações internacionais não podem fomentar a desigualdade
Crédito: Reuters /Caitlin Ochs

O presidente Lula aproveitou sua viagem a Nova York esta semana e a abertura da assembleia geral da Organização das Nações Unidas para reafirmar seu inconformismo diante do desgaste das relações internacionais, adubo para o aumento das desigualdades e para conflitos que desnudam o pior da condição humana. E defendeu como essencial às mudanças desejáveis reformas das instituições multilaterais, a começar das Nações Unidas, cujo Conselho de Segurança apenas consagra novas e modernas formas de colonialismo, ajudando a perpetuar o desalinhamento que aguça conflitos e a própria desigualdade.

Durante a assembléia, assim como nos encontros paralelos, inclusive dos 20 países mais ricos do mundo, as posições defendidas pelo presidente brasileiro representaram, muito provavelmente, os momentos mais elevados, ou assertivos, ajudando a devolver à ONU, ainda que apenas simbolicamente, o protagonismo que parece bem distante da realidade. Como ao lembrar que países africanos tomam crédito a taxas até 8 vezes maiores que as da Alemanha ou 4 vezes maiores que os Estados Unidos. “Um Plano Marshall às avessas, em que os mais pobres financiam os mais ricos”, disse. Aplausos da maioria se confundiram com o silêncio constrangido daqueles que têm as respostas, tornando quase natural o anúncio de que os gastos militares planetários cresceram por 9 anos consecutivos, somando US$ 9,4 trilhões em 2023.

“Estes recursos poderiam ter sido utilizados para combater a fome e enfrentar a mudança do clima, mas o que se vê é o aumento das capacidades bélicas, o uso da força sem o amparo do Direito Internacional que está se tornando regra”, acrescentou o presidente Lula. E para lembrar também, repetindo pronunciamentos anteriores, que a concentração da renda continua aumentando, que poucos estão mais ricos e muitos estão mais pobres. E tudo para fazer ver que a ordem econômica estabelecida ao final da Segunda Grande Guerra apenas ajudou a acentuar distorções e precisa ser revista para, de pronto, devolver voz aos que estão condenados ao silêncio.

São fatos e ao mesmo tempo sintomas de um grande fracasso que encontra seu símbolo mais atual no fato de que o planeta chegará a 2030 tendo cumprido apenas 16% das metas acertadas no âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Trata-se de escancarar a realidade sem máscaras os disfarces e assim fazer entender que o silêncio precisa ser quebrado, que os que não têm voz querem ser ouvidos, têm que ser ouvidos, abrindo-se dessa forma espaços para a construção de uma nova ordem econômica global que seja mais saudável e também mais funcional. Eis o que o Brasil, pelas palavras de seu presidente, tem a dizer.

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