Endividamento, violência e crime: os riscos das apostas em jogos eletrônicos

As páginas – e manchetes – do noticiário policial foram ocupadas recentemente por mais um crime, feminicídio, em que requintes de crueldade ultrapassaram todos os limites. Uma professora, conhecida e estimada, desapareceu de casa e seu corpo, mutilado, posteriormente localizado debaixo de uma ponte em local remoto. Mas o pior, se poderia haver o pior, ainda estava por acontecer. Investigações policiais em pouco tempo chegaram ao criminoso confesso, ninguém mais ninguém menos que o próprio filho da vítima. Conforme apurado, o criminoso, envolvido para além de suas posses com apostas em jogos eletrônicos, buscou alívio para suas dívidas com a mãe, o que acabou levando ao desfecho conhecido.
Endividamento, violência e crime, tudo tendo como pano de fundo a jogatina eletrônica, que, segundo depoimentos de autoridades, tomou no País proporções de epidemia. E, objetivamente, sem que nada de efetivo seja feito para conter este processo danoso e corrosivo, com arrecadação mensal estimada pelo Banco Central entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões, conforme valores apurados no início do corrente ano. Dinheiro que está saindo precisamente dos bolsos mais pobres, de aposentados e assalariados de baixa renda, até mesmo de pessoas atendidas pelo Bolsa Família. Algo tão absurdo e tão desmedido que implica também em desvio – mesmo que voluntário – de recursos destinados à alimentação e cuidados básicos, tudo com impactos negativos já percebidos no comércio varejista.
Quando estes dados foram conhecidos, em abril passado, também as autoridades se mostraram chocadas com a realidade exibida, prometendo de imediato reação à altura das proporções do problema. Muita conversa para, aparentemente, nada mudar, inclusive com relação às apostas ilegais, controladas de fora do País. Como tantos outros temas da maior importância este também caiu no esquecimento e assim as manchetes que ocuparam o noticiário durante dias e dias foram postas de lado.
Queiram ou não, o assassinato da professora de História em Belo Horizonte e sua causa nos trazem de volta ao assunto, cujas feridas acabaram sendo expostas da maneira mais triste. O que aconteceu com o jovem adulto filho da professora, o que em nada alivia sua culpa, é consequência, entendamos todos, de um desvio que não pode, não deve ser tolerado pela sociedade. Deveria, afinal, estar suficientemente claro que quem deixa de comer para jogar, na ilusão do ganho fácil e da superação de dificuldades, é capaz de tudo, até mesmo de assassinar a própria mãe como acabou de acontecer. Tudo isso sob o olhar indiferente, cúmplice, do próprio Estado.
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