Editorial

Os riscos da atuação de Musk no Brasil são ainda maiores com satélites na Amazônia

Enquanto a polêmica de maior destaque envolve a rede social X, é preciso estar atento aos reais interesses do empresário
Os riscos da atuação de Musk no Brasil são ainda maiores com satélites na Amazônia
Foto: Jonathan Ernst/Reuters

O empresário Elon Musk, que nos seus delírios talvez se imagine senhor dos mundos, possivelmente elegeu o Brasil como uma espécie de laboratório para testar suas extravagâncias e ambições. Pode ser também, dizem alguns, que ele enxergue no País o sítio adequado para semeadura de suas crenças no campo político, em que se situa à direita da direita mais radical. Seriam estas as origens, ou verdadeira motivação, para seus ataques àquilo que enxerga, falsamente é claro, como ameaça à liberdade individual, característica de um regime de exceção. E tudo isso, sabe-se muito bem, sem limites ou moderação, chamando atenção as diferenças de sua postura com relação a países que, como o Brasil, entendem que as redes sociais, como a sua X, não são terras sem lei ou de ninguém.

Nesse sentido e mais, por exemplo, que o aventureiro empenhado em dar início a uma corrida espacial que teria o planeta Marte como destino final, se revela também um homem perigoso. Cabe, por certo, levar a sério suas excentricidades e as claras ameaças nelas embutidas. E nesse rol é um tanto prudente que seja incluída desde já a empresa Starlink, dona de uma rede de satélites ainda em implantação e destinada às operações de um sistema global de internet e comunicações, já em atividades e apontada como vital para as comunicações na Amazônia. A empresa possibilita, a partir de uma pequena antena – já disponível no País – acesso direto à internet, além de servir também a atividades militares e estratégicas, condição em que supostamente atende às Forças Armadas brasileiras.

Conhecidos os antecedentes de seu dono, que por sinal em mais um delírio ou esperteza está anunciando que pretende mandar bloquear ativos brasileiros no exterior, definitivamente não é nada confiável para ser parceiro (?) em matéria tão sensível. E com a mesma Starlink, que havia anunciado que não acataria a determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) de bloquear a rede X no Brasil até que fosse indicado seu representante local e pagas as multas a ela imputadas. Não poderia haver outra decisão que fizesse sentido, ao mesmo tempo que deve ser lamentado o abandono do projeto de construção, pelo Brasil, de rede própria de satélites para uso militar e de comunicações, decisão nunca devidamente esclarecida e que abriu, ou escancarou, as portas justamente para o senhor Elon Musk.

Se erros dessa proporção e gravidade forem finalmente corrigidos, todos os acontecimentos que agora ganham espaço na mídia terão para o Brasil o sabor de um grande favor, uma vez que teriam contribuído para a supressão de ameaças muitíssimo mais graves aos interesses locais. E devolver o senhor Musk a seu devido lugar.

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