Enchentes no Rio Grande do Sul: por que a emoção deve, adiante, abrir espaços para a razão

Todas as atenções estão voltadas para o Rio Grande do Sul, para as consequências trágicas do distúrbio pluvial sem precedentes e para o socorro às vítimas. De pronto, essa é a tarefa a ser cumprida, num processo de mobilização que também evidencia que o País sabe, quando preciso, fazer da união o fator capaz de multiplicar esforços. Os acontecimentos dos últimos dias comovem e mobilizam, mas é fundamental que igualmente façam entender que todos estamos pagando pela imprevidência e pela sucessão de erros que não foram percebidos e corrigidos no tempo desejável. Cumprida a tarefa de socorrer, estabelecido o caminho da recuperação de tudo que foi perdido, será preciso voltar os olhares e atenções nessa direção. Em síntese, entender o que ocorreu, por que ocorreu, e assim evitar que tudo se repita, pior, em escala ascendente.
As questões ambientais, que preocupam, mas não mobilizam na escala necessária, evidenciam um processo de deterioração do mais extremo perigo e tudo isso deve ser percebido na escala macro, mas igualmente com um olhar mais próximo, focado em soluções possivelmente até mais simples. Para isso é preciso entender que o Brasil conheceu em menos de 100 anos um processo de urbanização em escala desastrosa, além, ou talvez exatamente por conta de sua velocidade, também caótico. E é exatamente a ocupação desordenada que explica o que aconteceu agora em Porto Alegre e cidades gaúchas e se repete, como rotina, nos mais diversos pontos do País. Falta entender que a impermeabilização do solo, associada às limitações dos sistemas de drenagem e escoamento de águas pluviais, está na raiz desses problemas hoje, a rigor, comuns a todo o País.
A emoção, neste momento tão claramente percebida, deve, adiante, abrir espaços para a razão. Ou para o entendimento simples e elementar de que já não é mais possível improvisar, acreditar em paliativos ou, simplesmente, não fazer nada. E reagir como é preciso significa também perceber que atribuir tudo às mudanças climáticas que acontecem globalmente pode ser uma forma de escapismo, de fazer de conta que as soluções virão de outra esfera, até certo ponto fora do alcance de prefeitos, governadores ou mesmo do mais alto escalão da República.
Por elementar, o entendimento de que desobstruir bueiros ou melhorar os padrões de descarte e coleta de lixo podem, perfeitamente, produzir resultados imediatos, sobretudo se associados à ocupação mais racional dos espaços urbanos e aproveitamento mais inteligente dos sistemas hídricos, não raro canalizados de maneira nada inteligente. Cabe refletir, cabe aprender, cabe reagir.
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