Editorial

Sem espaço para ilusões

Sem espaço para ilusões
Brasil hoje tem a 12ª maior economia do planeta | Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Nas décadas de 70 e 80, no século passado, a indústria chegou a representar algo próximo dos 30% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, participação hoje reduzida a aproximadamente um terço. Um otimista menos atento poderia enxergar nesse fenômeno um sinal positivo, como ocorreu nas economias mais ricas, onde a indústria perdeu espaço especialmente para o setor de serviços. Infelizmente não foi o caso e o País sofreu, na realidade, um processo de desindustrialização, um tanto precoce em relação ao desejável crescimento sustentado. E perdeu, fundamentalmente, porque a produção local não foi capaz de competir com as importações, que cresceram em volume e diversificação a partir da abertura promovida no final do século passado. A rigor e desde então o País ingressou num visível processo de marcha à ré, depois de figurar entre as 5 maiores economias do planeta para ficar hoje na 12ª posição, com pequenas variações.

O atual governo diz ter plena consciência da situação, sabe que ela é um dos fatores de empobrecimento do País e de perda de renda para parcela significativa da população. Já prometeu reagir, ao mesmo tempo em que reconhece que para isso será necessário investir em educação, com a ambição de ir bem além do básico para chegar à qualificação mais elevada. Trata-se de criar um ambiente em que ciência e tecnologia, alimentando a inovação, devolva competitividade à produção doméstica. Sabe também que não haverá competição possível enquanto o chamado custo Brasil anular as vantagens que o País tem à disposição.

Tudo isso sem deixar de lembrar, como fez recentemente o empresário e engenheiro Samuel Hanan em artigo publicado neste jornal, que pouco adianta ao Brasil estar entre as 10 ou 12 maiores economias do planeta e ao mesmo tempo ocupar a 61ª posição do ranking da competitividade ou o 87º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano. Eis o peso que nos tem puxado para trás, o que só não aconteceu nos tempos em que a economia local era fechada e subsídios mais ou menos disfarçados ajudavam a manter as aparências de razoável pujança industrial. Mudar é algo que não tem como acontecer no plano das promessas vagas ou até das boas intenções.

O esforço a ser feito será enorme, principalmente no sentido do abandono de antigas práticas, como a política tratada como negócio entre amigos e alianças são costuradas exclusivamente pela conveniência. O oposto, exatamente o oposto do que temos visto, será a estruturação de um projeto de Estado, com metas e objetivos bem definidos, além de entendidos como permanentes e distantes dos ventos da política. Assim, que pelo menos as ilusões sejam esquecidas.

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