Editorial

Seria caso de polícia?

Seria caso de polícia?
Saúde também entrou no bloqueio do orçamento da R$ 1,5 bilhão | Crédito: Rovena Rosa/Agência Brasil

Uma dona de casa sabe, nas suas contas mais simples, que não há como sustentar indefinidamente gastos que sejam maiores que sua renda. E sabe também, numa situação em que quase sempre falta salário e sobra mês, que essa realidade impõe sacrifícios e elementar estabelecimento de prioridades. Verdades tão elementares quanto distantes da esfera pública, onde a regra é exatamente o contrário, impondo desequilíbrio permanente, além de déficits que, constantes e avolumados, produzem uma situação da qual se pode dizer que só se sustenta no plano da ficção. Tudo exatamente como acontece presentemente.

O novo governo foi mais um daqueles que herdou uma “herança maldita”, sobretudo como consequência principalmente da gastança do ano passado – orçamento secreto, etc. –, que não rendeu os votos esperados, mas deixou uma conta difícil de ser administrada. Assim, e com boa dose de otimismo, o atual governo tem prometido, além de mais controle, fechar as contas do exercício em equilíbrio e produzir, já no próximo ano, algum superávit. Tudo isso sem novos riscos para os bolsos dos contribuintes. Na realidade, estamos falando de uma receita impositiva, que nos remete ao início desse comentário, mas na qual continua faltando o corte de despesas, ingrediente absolutamente fundamental.

E nada de cortes genéricos, aqueles que não costumam ir além do terreno das boas intenções. Estamos, sim, lembrando de um Estado gordo e pesado, aquele em que recentemente se descobriu que pelo menos 25 mil funcionários públicos ganham mais que o teto estabelecido em lei, onde parlamentares que deveriam viajar a Genebra em missão oficial embarcaram “por engano” para Nova York. O Estado sequestrado pela burocracia pública e que não tem mais como se manter de pé, mas prefere continuar ignorando os excessos enquanto deixa de fazer exatamente o que faria uma boa dona de casa.

Afinal, em que outro contexto entender a recém-anunciada decisão, face à constatação de que o desequilíbrio entre receitas e despesas poderá ser maior que o esperado, os critérios de bloqueio no Orçamento, agora de R$ 1,5 bilhão em que as maiores vítimas serão as áreas de saúde e educação, somando quase metade do total anunciado? Repetindo o que já foi dito – e que não venham mais uma vez com a conversa fiada dos direitos adquiridos –, somente a conta excedente do que é pago aos 25 mil marajás bastaria, e com sobras, para tapar o buraco agora apontado.

Fazer diferente e repetindo os mesmos erros do passado, aqueles que levaram às dificuldades atuais, é ato de irresponsabilidade que deveria ser barrado em outra esfera.

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