Editorial

Tarefa por concluir

Há questionamentos sobre como ninguém viu, como ninguém efetivamente denunciou e providências elementares deixaram de ser tomadas sobre o caso
Tarefa por concluir
Crédito: Divulgação/CMBH

São assustadoras as proporções alcançadas pela extração irregular de minério de ferro nos contrafortes da serra do Curral, divisa dos municípios de Belo Horizonte e Nova Lima. Cabe ainda entender como e porque os meliantes ousaram tanto, chegando a imaginar que poderiam faturar até R$ 1 bilhão, e com avanços que os levaram até as proximidades de Ouro Preto, onde igualmente deixaram estragos de grandes proporções. Entender como as teias da corrupção foram tecidas e seu sucesso não parece o bastante, já que por sua própria natureza não há como deixar de perceber a realização de atividades minerárias. Muito menos quando ela se dá em área que é objeto permanente das maiores atenções, sítio histórico de irregularidades que, mais que a paisagem, chegaram a alterar até as condições climáticas da cidade e seu entorno.

Abusos que foram percebidos e denunciados, mas ainda assim não foram detidos, o que só aconteceu depois de anos e por conta das diligências conduzidas pela Polícia Federal, num processo que demandou cerca de 5 anos de trabalhos intensos. Cabe sim perguntar como ninguém viu, como ninguém efetivamente denunciou e providências elementares deixaram de ser tomadas enquanto a certeza da impunidade animava os falsos empresários a novas e ainda maiores investidas. Festejando seus feitos, como agora se apurou, como se estivessem acima de tudo e de todos, descuidando até da mais elementar discrição.

E tudo isso num palco armado diante de Belo Horizonte e às vistas da população, sem que mesmo as denúncias que chegaram à imprensa provocassem reações que deveriam soar como naturais e previsíveis. Nada aconteceu nem mesmo quando explosões de dinamite, típicas do processo de extração, chegaram praticamente às portas de residências situadas em bairros que abrigam população de alto estrato social e econômico. Uma passividade, ou indiferença, que soa um tanto estranha e, portanto, deve ser também objeto das atenções dos investigadores.

Afinal, continua sendo preciso saber como e porque tudo aconteceu, como a rede de corrupção pôde ser montada e operou com exemplar eficiência ao longo de tanto tempo, deixando rastros que são proporcionais aos estragos causados. Tudo visível e sem qualquer tipo de disfarce, o que talvez só tenha podido acontecer porque a indiferença, omissão e passividade do entorno, de autoridades e moradores da região, de alguma forma foi ainda maior que a própria ousadia dos delinquentes, uma rede que ainda está por ser efetivamente desmontada.

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