Teimosia custa caro

A paulatina redução das taxas de juros, repetida na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, tem sido festejada como indicativo de que a política monetária no País aos poucos vai retornando ao patamar da racionalidade. Na realidade, não existem motivos claros para isso, muito menos quando se verifica que o novo corte de meio ponto na taxa Selic não retira o Brasil da incômoda posição de patrocinador da maior taxa de juro real do mundo, agora em 6,90%, seguido do México, que até há pouco ocupava a primeira posição.
Medir até que ponto a persistência dessa política por longuíssimo tempo, contrariando todas as evidências que apontam para a direção contrária, sufoca o País, deveria ser exercício impositivo na busca de melhor compreensão da realidade. Ou, alternativamente, recorrer, a sério, à aferição de quem ganha e quem perde, lembrando que a conta mais pesada fica para o Estado brasileiro, justamente o maior dos devedores. O que tem sido feito, sob aplauso entusiasmado e sintomático dos agentes do “mercado” é, na realidade, uma aberração diante da qual só cabe mesmo indagar como o País ainda não sucumbiu aos equívocos cometidos.
Ou, alternativamente e ainda com razões mais fortes, lembrar que presentemente a alta administração federal se vê às voltas com os efeitos da constatação de que dificilmente poderá ser cumprida a meta de zerar o déficit público já no próximo exercício fiscal. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com alguma dose de teimosia ou de conveniência, continua afirmando que a meta continua de pé, mas lembra que chegar até lá significa reencontrar os caminhos do crescimento econômico, única fórmula de gerar o acrescimento de receita demandado para que as contas públicas reencontrem o equilíbrio.
É justamente nesse ponto que a pergunta mais óbvia salta ao primeiro plano. Como afinal crescer, como ampliar investimentos e gerar receitas novas, encontrando afinal o tal “crescimento sustentado” se a política monetária continua representando obstáculo praticamente intransponível, além de convite à especulação, ao rentismo e não ao investimento produtivo? Eis porque, na verdade, existe muito pouco a comemorar diante da teimosia que o Banco Central encarna e que está longe de ser, como alguns acreditam, fator de segurança para o País.
Afinal, continua sendo difícil, muito difícil mesmo, quase impossível, acreditar que o País que patrocina, e já por longos anos, taxas de juros que estão além dos limites da racionalidade, possa estar no melhor caminho.
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