Tempos confusos
Mereceu destaque na imprensa a notícia da prisão no Rio de Janeiro de um desembargador acusado de envolvimento com o crime organizado no Estado. Noticiou-se também que o mais recente alvo da Polícia Federal é dono de um currículo que seria melhor definido como folha corrida, o que até agora não bastou para impedir que seus proventos somem – e a cada mês! – a exorbitante quantia de R$ 120 mil. Caberia lembrar aos esquecidos, inclusive aos membros do Judiciário, que o teto de vencimentos do funcionalismo público ainda não chegou aos R$ 50 mil.
Nada a estranhar, inclusive o fato de que o assunto não mereceu qualquer destaque ou explicação na própria imprensa, num país em que distorções desse calibre acabam absorvidas com alguma dose de naturalidade, se não de absoluto cinismo. As “excelências” que também se multiplicam com indesejável velocidade, entendem, estão absolutamente convencidas, de que tudo podem e a elas nada é vetado. Exatamente como as pretensões de um deputado federal, já afastado cabe registrar, que considerava pertinente exercer seu mandato mesmo com residência no exterior. Para ele, a vedação afinal consumada não teria sido mais que perseguição, exatamente como pensa um colega seu, este pilhado com R$ 400 mil em dinheiro vivo que ele candidamente disse apenas ter esquecido de depositar.
Não seriam afinal mais que sinais dos tempos confusos em que vivemos, da aceitação de malfeitos que assim vão sendo repetidos descontroladamente. E, para retomar o assunto do presente comentário, a tal ponto que quando surge no Supremo Tribunal Federal (STF) ideia da construção de um código de conduta para a magistratura, em especial para as cortes superiores, haja quem diga que o momento não seria oportuno para a empreitada. Gente que talvez simplesmente não deseje se submeter ao desconforto da aviação comercial, preferindo o luxo próprio de jatinhos particulares.
Gente que também não deve ter gostado nem um pouco de uma outra ideia do ministro Edson Fachin, que ocupa também a cadeira de presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), por ele incumbido de realizar levantamento sobre os tais “penduricalhos” que adornam e inflam para além do absurdo proventos de juízes, fazendo do teto algo distante da realidade, assim possibilitando que um desembargador possa embolsar R$ 120 mil a cada mês.
Simplesmente não dá para seguir nessa toada, cujos custos igualmente não têm como ser suportados. Na verdade, passou, e muito, da hora de mudar e é bom saber que o presidente do CNJ assim entende.
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