Editorial

Tirando máscaras

Venda das operações nos Estados Unidos pela detentora do TikTok reacende debate sobre as big techs
Tirando máscaras
Foto: REUTERS/Dado Ruvic

Em comunicado assinado por seu presidente, a ByteDance, empresa chinesa controladora da rede social TikTok antecipou na semana passada a venda de suas operações nos Estados Unidos. Metade da joint venture será assumida por um grupo de investidores que tem à frente a Oracle, contando também com capitais dos Emirados Árabes e outros. O negócio, que deverá ser formalmente anunciado no próximo mês de janeiro, foi apresentado como necessário para que as operações da rede social fossem mantidas nos Estados Unidos e como resultado de explícita pressão do governo local.

Ou mais um daqueles casos em que será oportuno lembrar o conselho de veterano político norte-americano, para quem seria sempre prudente fazer o que eles dizem, mas não necessariamente o que eles fazem. As redes sociais, hoje controladas por empresas que figuram entre as mais ricas do planeta e as principais delas controladas por grupos que têm origem e sede nos Estados Unidos, fazem parte do grupo das intocáveis big techs que estão no centro dos interesses que o governo do presidente Donald Trump abriga sem qualquer tipo de disfarce ou constrangimento.

Os mesmos interesses que, em nome da segurança nacional, forçaram a venda agora concretizada das operações da TikTok, restando como alternativa aplicação da lei que baniria o aplicativo do país. Tudo com a chancela do mesmo governo que reage com extrema ferocidade diante de tímidas tentativas de estabelecimento de normas, filtros e controles para as redes e aplicativos, interpretando tais movimentos como ataques frontais ao país, passíveis, portanto, de reações, além de apresentá-los como manifestações explícitas de censura e ataque à liberdade de expressão. Façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço…

O fato concreto, absoluto, é que a partir de agora quem se preocupa com abusos e distorções que resultam da falta de controle e disciplinamento dos aplicativos, das redes sociais e, mais amplamente, da própria internet, tem novos e mais fortes argumentos para defender suas posições. Trata-se, sim, pura e simplesmente, de fazer o mesmo que os Estados Unidos reconhecem como seu direito, impondo controles que nunca deveriam deixar de existir. E como reconhecimento de que abusos reiteradamente cometidos representam, estes sim, ameaça a ser contida posto que significam clara ameaça aos sistemas políticos e à própria ordem social fundada em valores que são deliberadamente atacados e bem podem ser levados à irreparável destruição.

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