Editorial

O triunfo da verdade

O triunfo da verdade
Crédito: Adriano Machado/Reuters

O silêncio dos envolvidos, ainda que o ativismo nas redes sociais prossiga nos mesmos termos, ajuda a fazer compreender, agora que as máscaras caíram, até que ponto chegaram as articulações, visando, durante o mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro, romper a ordem constitucional. Tramou-se um tosco golpe e suspeitas a respeito estão agora transformadas em provas contundentes, resultantes das investigações da Polícia Federal, com autorias estabelecidas e fartíssima documentação probatória.

Novidade escancarada talvez apenas o delírio dos que imaginaram ser possível “virar a mesa” antes mesmo das eleições e dos riscos que elas representavam.

O 8 de janeiro, em que a escalada golpista chegou a alturas inéditas no País, não foi esquecido, bem ao contrário de ocasiões anteriores em que arranjos sempre evitaram que a verdade viesse à tona, produzindo consequências. E seguir a meada não parece ter sido tarefa difícil, tão tosca foi a ação dos articuladores do golpe, do qual eles próprios produziram fartas provas como a gravação de uma reunião ministerial em que o então presidente da República pedia, sem medir palavras, que todos se encarregassem de produzir mentiras – isso mesmo! – para desacreditar o processo eleitoral. A rigor, não há mais como sustentar que a ameaça estava no outro lado.

Cabe seguir a trilha das investigações e apurações, cabe transformá-las em peças acusatórias, tudo dentro do devido processo legal, para que não possam ser refutadas, impossibilitando arranjos de conveniência conforme aconteceu em outros momentos. Aos culpados, todos eles independentemente das posições que ocuparam, as penas da lei. Para a sociedade brasileira, além do óbvio alívio, o entendimento de que o ex-presidente, ao contrário do que imaginava, não dispunha do “seu” exército. E de que o golpe, com toda a sua sandice, não aconteceu porque não encontrou apoio de braços armados.

O entendimento desse ponto é igualmente crucial. Durante a gestão passada e em inúmeros momentos dissemos, nesse espaço, que o silêncio das Forças Armadas não deixava de ser perigosa forma de conivência e não fazia justiça a seus valores. Tudo agora está suficientemente claro e, pela primeira vez, oficiais de alto escalão, ex-ministros inclusive, foram alcançados. Espera-se que não encontrem abrigo no corporativismo e, bem ao contrário, como deve ser, que as próprias forças igualmente condenem os desvios e excessos cometidos, flagrantemente contrários a seus princípios e deveres.

Tudo isso significa, simplesmente, o triunfo da normalidade, a consolidação da democracia brasileira e o fim da falsa ideia de que as Forças Armadas teriam poder de arbitragem sobre o bem e do mal.

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