Editorial

Uma história mal contada

Uma história mal contada
Forças Armadas tiveram participação no 8 de janeiro | Crédito: Lula Marques/Agência Brasil

Ainda que os principais implicados, apesar da robustez dos elementos probatórios já reunidos, continuem jurando inocência, é fato concreto que o Brasil foi palco, em passado recente, de sombrias manobras destinadas a desestabilizar o sistema político, abrindo assim caminho para um golpe de Estado. Algo, aliás, explicitamente mencionado – e em inúmeras oportunidades – pelo então presidente da República, que, entre outros exemplos, tentou fazer do dia 21 de setembro de 2021 o momento de acender o estopim. Tudo às claras, sem reservas, e tendo como pretexto uma jamais comprovada vulnerabilidade do sistema de coleta e apuração dos votos.

Um processo que continuou mesmo depois de conhecidos os resultados da votação, mesmo que legitimados por organismos internacionais acreditados e independentes. Foram essas as condições, inclusive a conivência das Forças Armadas com os acampamentos armados nas portas de muitos quartéis como se aquele espetáculo de horrores fosse aceitável, natural e, sobretudo, democrático, que tornaram possíveis os acontecimentos do dia 8 de janeiro. Sem lugar a dúvida, o momento mais baixo, mais aviltante, da história de nosso País.

Não nos parece nada difícil imaginar o que teria acontecido se a barbárie tivesse triunfado naquele momento. Não foi o caso e os articuladores da baderna, covardes e repetindo sua tática de sempre, cuidaram imediatamente de negar responsabilidade sobre o que se passou. Com o acinte de chegarem a debitar a invasão e depredação das sedes do Congresso, do Executivo e do Judiciário à atuação de esquerdistas infiltrados. Foi apenas mais uma tentativa de inversão dos fatos que não prosperou, da mesma forma que a ideia de que os baderneiros presos teriam sido alojados em “campos de concentração”.

Agora surge um relatório, cuja autoria é vagamente apontada às “Forças Armadas”, sustentando que os acontecimentos de 8 de janeiro só foram possíveis porque houve omissão – quem sabe cumplicidade – de um governo que mal completara sua primeira semana de existência. Nada de novo em mais uma tentativa covarde de transferir responsabilidades, de negação pura e simples, comportamento que foi usual no governo passado. Faltaria dizer a essa gente ou a quem serve à sua causa menos por aderência e muito mais por discordância com relação aos vitoriosos, que os acontecimentos de janeiro transcendem, e muito à vulcanização ou ao estabelecimento de culpas, como se tudo se resumisse quase que a um exercício burocrático. Falta simplesmente entender as proporções da agressão sofrida pela Nação brasileira.

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