Uma outra perspectiva

Na segunda metade do século passado a Venezuela viveu um processo de continuada instabilidade política, bem distante da democracia e da liberdade, se entendidas no seu conceito mais verdadeiro. Eram regimes ditatoriais apoiados e fomentados pelos Estados Unidos e assim legitimados, nada essencialmente diferente do que aconteceu mais ao Sul, em diversos países, inclusive no Brasil. Ditadores amigos, sobretudo em país com grande reserva de petróleo, eram da mais absoluta conveniência, mas não resistiram aos continuados desmandos. Teria sido, no caso venezuelano, a tal “maldição do petróleo” que resultou em terra arrasada, mas fértil para o populismo, tal como hoje ele se apresenta por lá, com a máquina de propaganda sempre ativa se encarregando de aumentar o estrago e de esconder que em larga medida ele é produto também do boicote que o país sofre.
Tudo isso apenas para situar, para chegar a uma questão mais presente e as reações consequentes.
Estamos falando dos atritos entre Venezuela e Guiana e da forma como são apresentados, reproduzindo a velha cartilha que nos fala da existência de mocinhos e bandidos, tal e qual no Velho Oeste. Lembrando: os conquistadores eram os mocinhos, restando aos índios o papel de bandidos. Nos espanta, independentemente do que seja ou deixe de ser o atual governo da Venezuela, a maneira como a contenda é “vendida”, apenas e tão somente fruto da maluquice de um desqualificado, sem que ninguém se lembre que estamos também, ou antes de tudo, diante do que resta do entulho colonialista.
Um belo dia, no século XIX e quando o colonialismo começou a buscar padrões mais próximo do que se entendia como “civilizado”, a Inglaterra, então potência dominante, se encarregou de produzir a última versão do mapa da América do Sul, com espaço para as três guianas, formalmente o que restou da presença europeia no Continente. Decidiu e ficou decidido e é disso que se está falando presentemente, de colonialismo e de dominação. E nessa medida, é claro, repetindo o roteiro seguido em tantas outras ocasiões, o presidente Maduro passa a ser da mais extrema conveniência, ainda que como encarnação do mal.
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Para quem ainda entende que o que é bom para os Estados Unidos é bom para o resto do planeta, fica bem mais fácil aceitar. Ainda assim, não pode deixar de causar espanto que tão poucos percebam que também podemos estar diante do último capítulo do colonialismo na América do Sul, onde as decisões da Inglaterra e de seus vassalos não contam mais.
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