Editorial

O uso de combustíveis verdes e a reversão do processo de desindustrialização do Brasil

A indústria de material de transportes no planeta está passando por grandes transformações
O uso de combustíveis verdes e a reversão do processo de desindustrialização do Brasil
Crédito: Reuters

As três maiores e mais antigas montadoras de veículos instaladas no País estão anunciando novo ciclo de investimentos, a ser concluído até 2030, que será também o maior de todos os tempos, somando, conforme o anúncio das empresas, R$ 117 bilhões. O anúncio quase simultâneo, depois que as mesmas empresas chegaram a sugerir o encerramento de suas atividades no País, tem ares de uma virada de chave. A indústria de material de transportes no planeta está passando por grandes transformações e não apenas por conta da substituição dos motores a explosão pelos elétricos.

Caberia lembrar, num rápido retrospecto, que desde a virada do século, talvez antes, se avolumam as discussões sobre os impactos da motorização acelerada. O aumento da frota de veículos leves, de uso individual, tem impactos ambientais severos e amplamente debatidos. Simultaneamente, o adensamento do tráfego, em alguns situações para além de limites críticos, implica comprometimento da mobilidade, tudo isso fazendo do automóvel passar, em poucos anos, da condição de melhor símbolo da prosperidade e até da liberdade individual para algo como espécie de vilão moderno.

A eletrificação, em que motores de baixa eficiência dão espaço para outros que aproveitam quase toda a energia que geram, responde a um dos desafios, embora outras questões sejam levantadas como a oferta de energia elétrica para carregar baterias. O certo no momento é a incerteza, mesmo que alguns países já tenham fixado prazos para o fim da utilização de combustíveis fósseis. Tudo isso sem contar uma inversão de posições, com a China passando à condição de maior produtor mundial, ocupando espaços dos fabricantes tradicionais, derrubando posições que pareciam cristalizadas.

Investir na escala anunciada significa, evidentemente, considerar todas estas variáveis, num processo em que para o Brasil existe um diferencial competitivo único representado pela disponibilidade de combustível verde, mais precisamente o etanol produzido a partir da cana-de-açúcar.

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Claro que investimentos na escala anunciada não são feitos ao acaso e não são fruto de gestos voluntariosos. Quem ordena dispêndios nessa escala deve saber o que está fazendo. Algo que pode significar que a indústria de material de transportes no Brasil possa estar ingressando num período revolucionário, à beira de realizar a maior e mais profunda transformação em toda a sua história.

Quem sabe para recuperar, em escalada global, capacidade de competir e, assim, fazer que a capacidade instalada tenha também alcance global, com força até para reverter o processo de desindustrialização em curso no País. Tomara.

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