Editorial

Valores essenciais que precisam ser recuperados

Matar, além de tudo, é mais caro que sustentar a vida
Valores essenciais que precisam ser recuperados
Foto: Amir Cohen/Reuters

Monumental desfile militar marcou, em Pequim, as comemorações dos 80 anos do fim da Segunda Grande Guerra. Oportunidade para exibição do poderio militar do país e, dessa forma, também resposta explícita aos arroubos de poder dos Estados Unidos, agora ainda mais frequentes por conta da administração Trump. Comemorar o fim de uma guerra considerada a mais devastadora de todos os tempos, exibindo clara disposição para um novo conflito mostra até que ponto valores essenciais foram postos de lado em favor da força bruta, da intimidação contínua que se repete em conflitos regionais, de menor escala, apenas campos de prova para aventuras de maiores proporções, aquelas até aqui contidas diante dos riscos de que possa não haver vencedores.

De fato uma guerra, qualquer guerra, o ato de eliminar inimigos pela força e de maneira definitiva apenas exibe a triste condição humana, a irracionalidade que deveria provocar somente vergonha e onde absolutamente não pode existir virtudes. Não, absolutamente não, quando sabemos que estimativas confiáveis apontam que, no corrente ano, gastos militares somarão U$ 3 trilhões. Com uma décima parte desse valor não existiria fome no planeta, mas a insanidade não permite que seja assim. Ao contrário, e como ainda há pouco pode ser visto em Pequim, conhecimentos acumulados ao longo da existência resultam em avançadas tecnologias concebidas para exterminar a existência e não para melhorar as condições de vida de todos, em todos os lugares. Apontamos Pequim simplesmente porque o exemplo está mais próximo no tempo, mas bem sabendo que os senhores da guerra se nivelam. E por baixo sempre. A irracionalidade não tem limites e igualmente não tem defesa, nada importando de que lado venham as ameaças que fazem a força bruta anular o diálogo, a colaboração verdadeira e o entendimento que poderia ser incondicional.

Pesquisas confiáveis apontam que os gastos militares realizados ao longo do século passado somaram U$ 60 trilhões, resultando na perda de 200 milhões de indivíduos, o que significa dizer que cada vida abatida custou U$ 300 mil. Matar, além de tudo, é mais caro que sustentar a vida, colocar recursos materiais e conhecimentos acumulados ao longo do tempo a serviço de uma existência melhor para todos, garantido pleno e universal acesso aos bens essenciais em condições mais equilibradas.

Tristemente, no entanto, o elementar, o absolutamente óbvio, é também o mais distante, mesmo que nos imaginemos no topo da cadeia das espécies, donos da condição única da racionalidade. Será mesmo?

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