Editorial

Vazio a preencher

Vazio a preencher
Atual governo comemora alguns êxitos administrativos e vitórias importantes no Legislativo | Crédito: REUTERS/Adriano Machado

Com as comissões parlamentares de inquérito, especialmente as que tratam dos acontecimentos de 8 de janeiro e da atuação do MTST, transformadas numa espécie de circo de horrores, onde falta qualquer traço de substância e sobram desatinos, a oposição extremada, direitista, se esvazia na mesma proporção.

Tudo isso deixando no ar a impressão de que o espólio do antigo governo, agora com seu chefe inelegível e acuado, está sendo consumido mais rapidamente do que se poderia imaginar. Para muitos um alívio, ainda que não necessariamente bom sinal, uma vez que os espaços supostamente vagos vão sendo ocupados, e com a costumeira voracidade, pelos oportunistas bem conhecidos, os de sempre. Ou todos aqueles que só têm compromisso com seus próprios interesses, sem que se importe em como alcançá-los.

São circunstâncias bastante evidentes, bem próprias de um país em que as tais “siglas de aluguel” tinham identidade, reconhecimento e lugar no espaço político. Ou onde ministros e outros ocupantes do tal primeiro escalão eram escolhidos conforme o seu peso político, num processo em que méritos, digamos, subjetivos tinham pouca ou nenhuma importância. Ao longo do tempo, desde a redemocratização precisamente, este foi o padrão, marcando também o fracasso do pluripartidarismo, que os constituintes imaginavam ser mais democrático e plural. Um ideal que se perdeu na distância, do qual em verdade nunca nos aproximamos, o que ajuda na compreensão de muitos dos males atuais.

Sobraram e sobram arranjos sempre de conveniência, assistimos, faz pouco tempo, ao extremo do estabelecimento de um dito “orçamento secreto”, situação que na essência não mudou nada na atualidade. As alianças são explicitamente de conveniência, têm preços e não têm causas, numa escala de valores (?) que guarda absoluta proporção com as dificuldades ou urgências da situação, passando longe de qualquer coisa que se aproxime de conceito de fidelidade. Eis o mundo real que mesmo em momentos de aparente calmaria, como agora, em que o governo comemora alguns êxitos administrativos e vitórias importantes no Legislativo, absolutamente não deixa espaço para tranquilidade.

Pior, bem pior, não deixa espaço para que o governo governe, assim entendido o espaço mais nobre em que as verdadeiras questões nacionais, aquelas que a todos interessam, são tratadas e encaminhadas. Na realidade uma situação que se aproxima de algo semelhante ao vácuo, demandando reformas profundas, não por acaso adormecidas como se fossem assunto de menor importância.

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