Voltamos à normalidade

Ao longo de seu mandato o ex-presidente Jair Bolsonaro pouco ou nada disfarçou suas intenções, seja ao questionar a integridade do processo eleitoral, seja ao mencionar, vezes seguidas, o “meu exército”. Nos dois casos vê-se agora que blefou, seja por não ter como sustentar suas acusações ao sistema de votação e apuração de votos, reconhecidamente um dos mais seguros e eficientes do planeta, seja por não contar com um exército capaz de sustentar suas pretensões. Se não cabiam dúvidas a respeito, agora, com os depoimentos do tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente, ficam certezas. E tudo culminando, depois da votação de outubro passado e conhecidos os resultados, com uma reunião do presidente da República e os ministros militares, onde, segundo Mauro Cid, foi feito um convite explícito ao golpe, com anulação das eleições e todo o roteiro próprio dessas ocasiões.
Não são especulações, intrigas da oposição, muito menos fake news. São fatos, conforme atesta o comandante do Exército, general Tomás Paiva, que confirmou a reunião e o convite que, não tendo sido aceito pelo general Marco Antônio Freire Gomes, deu em nada, conforme sabido. Sobre os acontecimentos, sobre a trama que se tentou armar, o general Tomás Paiva, com rara felicidade resumiu muito bem o que se passou e seus desdobramentos: “Faço questão de sempre dizer que o Exército não tem que ser enaltecido por cumprir a lei. É a obrigação. Não tem mérito.” E que seja também um ponto final.
Como acaba de ser visto, ou confirmado, não faltaram no País ao longo da história políticos, ou simples aventureiros, que tentaram fazer do estamento militar a cunha para suas pretensões. Em alguns momentos tiveram habilidade suficiente para o sucesso, em outros, como em 1964, os três aspirantes à cadeira presidencial, governadores de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, perderam para as ambições que militares logo descobriram e que os mantiveram no poder por duas décadas. Tudo isso é passado e a questão se resume a aprender com a história.
Nesse sentido, a fala do atual comandante do Exército, que evidentemente falou também por seus pares, é da mais fundamental importante. Para pôr fim à ideia de que as Forças Armadas, que são instituições do Estado e não tem espaço na política, são espécie de árbitros que estão acima do bem e do mal. Não são e isso também está sendo demonstrado presentemente, com o próprio comandante reconhecendo que a depuração será feita quando necessário. Falta pouco para que os defensores do arbítrio sejam afinal silenciados.
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