Opinião

Empresas saudáveis são construídas por mentes sadias

Empresas saudáveis são construídas por mentes sadias

Eliane Maria Ramos de Vasconcellos Paes*

A percepção das empresas em relação ao conceito de capitalismo consciente cresceu nos últimos anos. Esse movimento global reconhece que todo negócio tem um propósito que vai além da geração de lucro e envolve a criação de diferentes valores para todas as partes interessadas (stakeholders). Um dos pontos fundamentais para que as organizações atinjam esse patamar é o cuidado com a saúde mental das pessoas. Afinal, assim como acontece com o nosso corpo, apenas mentes sadias podem manter empresas saudáveis. E para inspirar, engajar e energizar os funcionários e clientes nessa direção é preciso, primeiramente, desenvolver lideranças conscientes, que sejam exemplos para a transformação e entendam que, no mundo atual, as características emocionais e comportamentais dos profissionais pesam mais que as competências técnicas.

Isso porque, na prática, o trabalho tem impacto significativo no adoecimento psíquico dos indivíduos. De acordo com um levantamento da Organização Mundial de Saúde (OMS), de 2020, e da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), de 2022, cerca de 970 milhões de pessoas estavam com problema de saúde mental em 2019. E pós-pandemias, isto só foi mais intensificado. Conforme documento da Organização Internacional do Trabalho (OIT), estima-se que 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos, anualmente, por causa de depressão e ansiedade. Um em cada três trabalhadores – mais ou menos 30 milhões de pessoas – está com burnout.

Ainda segundo a OMS, dentre os maiores riscos à saúde são: cultura organizacional tóxica; relacionamento abusivo no local de trabalho; falta de segurança psicológica e falta de integração entre vida pessoal e profissional. Por outro lado, pesquisa da Boston Consulting (maio/2019) aponta que o que mais motiva as pessoas, no âmbito empresarial, é ter um bom relacionamento com os colegas, equilíbrio entre pessoal e profissional e boa relação com o gestor. Ou seja, a qualidade dos relacionamentos reflete diretamente na performance individual e nos resultados da corporação.

Dessa forma, os gestores começaram a repensar seus modelos de liderança, até porque o comportamento humano passou por alterações de forma exponencial após a pandemia. Houve uma mudança do mundo que chamávamos de VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo) para o mundo BANI (frágil, ansioso, nada-linear e incompreensível). Esse novo termo, cunhado pelo antropólogo Jamais Cascio, em 2020, afirma que as lentes do mundo VUCA não são mais suficientes para distinguir os fatos da vida contemporânea no meio corporativo. Este novo momento enfatiza o emocional, as relações mais casuais e líquidas.

Portanto, a relevância do capitalismo consciente, em contraposição ao capitalismo selvagem, é compreender que pessoas mais saudáveis vão gerar negócios mais saudáveis, o que já tem sido comprovado no dia a dia das organizações adeptas ao movimento. Pesquisa do instituto Humanizadas, de 2023, revela que as melhores empresas para o Brasil possuem culturas positivas e centradas no humano. Elas superam outras companhias em capacidade de inovação, oferta de bem-estar físico, mental e emocional, diversidade e inclusão, segurança psicológica, entre outros fatores que não estão diretamente relacionados ao desempenho financeiro.

Para disseminar esses valores, é preciso que os líderes estejam preparados para desempenhar um papel muito mais consciente para cuidar de si e do outro, sejam mais humanizados e empáticos e saibam se comunicar. O óbvio também precisa ser falado: todos, inclusive as lideranças, devem estar atentos à prática de exercícios físicos com regularidade, à manutenção de uma alimentação adequada e à qualidade do sono.

Além disso, é essencial que repensem a sobrecarga de tarefas e os prazos, muitas vezes, fora da realidade no mundo corporativo, pois são situações que fazem com que o trabalho deixe de ser fator de promoção da saúde mental para se tornar vilão. A preocupação em garantir as pausas, o tempo livre, é essencial. Outro tema relevante é a “intimidade artificial”, desenvolvido pela psicoterapeuta Esther Perel. Ela argumenta que vivemos em permanente estado de atenção parcial, sempre divididos entre as pessoas e o celular/mídias sociais. Isso gera questões comportamentais e emocionais, sendo mais uma causa de adoecimento das pessoas.

Então o que fazer para prosperar? O momento atual indica a importância de criar um grupo equilibrado de funcionários e clientes que leve a esse sistema mais saudável de modo genuíno, por meio de uma cultura mais inclusiva e respeitosa. Nesse sentido, a pesquisadora americana Brené Brown nos leva a uma ótima reflexão no seu livro “A Coragem para Liderar”: “no passado, os empregos dependiam dos músculos; agora, eles dependem muito mais do cérebro, mas, no futuro (que é hoje), ele vai depender muito mais do coração”.

*Conselheira da Filial Regional do Capitalismo Consciente em BH, Presidente do Conselho Deliberativo da ABRH Brasil, Presidente do Conselho Empresarial de RH da AC Minas e Diretora Regional Predicitve Index- PI. Instagram @elianeramos13 e Linkedin eliane ramos vasconcellos paes

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