Opinião

Então é Natal

Então é Natal

Além do teor pacifista e social que caracterizam o ‘Beatle da Paz’, essa composição traz em sua letra um alto grau de autorresponsabilidade, que o artista atribui a cada um para que o Natal, o Ano Novo e os demais ciclos cronológicos da vida sejam mais deliberados, felizes e sustentáveis. Tudo que o modelo 6D recomenda em sua dimensão central, onde o ser humano é apontado como o agente do equilíbrio… ou do caos, vide conflitos crônicos e recentes na Terra. “Então é Natal e o que você fez?”. “A guerra termina, se você quiser.” Rússia, Israel x Palestina, Coréia do Norte & companhia ilimitada que o respondam, mas serve para todos nós. Deixando de lado conflitos passados e latentes, apesar do alto grau de sofrimento que eles trouxeram e ainda trazem, fixemos na questão da escolha do indivíduo: ser feliz e fazer feliz, assim como manter ou encerrar um conflito, são uma questão de decisão. Individual, na maioria das vezes.

A canção utiliza a palavra “agora” em seu final, para enfatizar a urgência da atitude de por um ponto final naquilo que não é desejado ou que gera sofrimento evitável. Atualmente, parecemos nos alimentar de ideologias. De frente para o espelho parecemos perfeitos. Porém, gostamos de sentir gosto de sangue na boca durante conflitos medíocres – verbais ou físicos – e nos limitamos a nos aprisionar em discursos, inflamações políticas irracionais ou em ruminar pensamentos e ressentimentos, quase sempre adiando decisões e/ou transferindo responsabilidades e culpas. É comum ver pessoas queixando-se da superproteção dos pais na infância para justificar sofrimentos adultos ou delegando a terapeutas, pastores, monges, governos, professores, gerentes, colegas ou a qualquer outro a responsabilidade ou o fracasso de suas próprias escolhas.

Aliados de Lennon na autorresponsabilização, os indianos sugerem que “a gente deve ser a mudança que quer ver no mundo.” Porém, reclamar continua a opção predileta. Há um néctar (inicial) no lamento, no adiamento de ações e na transferência de responsabilidades; mas o fel da consequência disso é inevitável. Se este for o caso, o Natal que se aproxima pode ser uma boa oportunidade de dar ao mundo e a si mesmo um presente capaz de fazer a diferença, o accountability: capacidade de puxar para si as oportunidades de mudança e as decisões que afetam diretamente sua profissão ou sua vida. Ser o protagonista da própria história dá trabalho; requer que se afaste da, por vezes, deliciosa zona de conforto; que se assuma riscos e que se entre de sola nos muitos desafios que habitualmente se antepõem à qualquer forma de realização.

Lennon está certo quando explicita a irracionalidade das guerras e propõe seu fim; quando ressalta a necessidade de inclusão e igualdade entre as raças e também quando coloca a paz como um ideal. Sua maior vanguarda, contudo é quando sublinha a necessidade de ação individual, tão urgente em nosso tempo quanto à necessidade de reflexão que parece banida pela modernidade líquida que vivemos. Talvez isso tenha trazido um dos maiores males da humanidade – impassível diante do mal evitável – que é sua letargia: a esquiva de posicionamentos, de escolhas e também de atitudes, comprometendo o que pode fazer este Natal diferente de todos os outros; e do Ano Novo muito mais que uma transição cronológica. Valorizemos o alerta do sábio Lennon ou teremos Led Zeppelin como a trilha sonora da virada: “the song remains de same…”.

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